quarta-feira, 22 de maio de 2024

Tedros Adhanom Ghebreyesus* - Acordo pandêmico

O Globo

Segurança sanitária mundial depende da garantia de que não existem elos fracos na cadeia de defesa 

Durante mais de dois anos, países de todo o mundo vêm trabalhando juntos em prol de um objetivo histórico: garantir que estaremos mais bem preparados para a próxima pandemia, aprendendo as lições da devastação causada pela Covid-19. Numa altura em que conflitos, política e economia provocam destruição, discórdia e divisão, governos de mais de 190 nações colaboram para forjar um novo acordo global, protegendo assim o mundo contra futuras e inevitáveis pandemias.

Essa colaboração começou durante o acontecimento mais devastador das nossas vidas. Oficialmente, a Covid-19 causou mais de 7 milhões de mortes. Mas o número real é provavelmente muito mais elevado. A doença trouxe prejuízos de bilhões de dólares à economia global.

No auge dessa catástrofe, com hospitais em todo o mundo lotados de pacientes tratados por profissionais de saúde sobrecarregados, mais de duas dezenas de líderes mundiais lançaram um apelo global — para que as populações em todos os países nunca mais ficassem tão vulneráveis a outra pandemia; para que governos cooperassem na partilha de informações, equipamentos médicos e medicamentos; e para que os países e as comunidades mais pobres não ficassem no fim da fila no acesso a bens que salvam vidas, como as vacinas.

O que era necessário — disseram então os presidentes e primeiros-ministros — era um pacto histórico que comprometesse os países a trabalharem juntos.

Isso levou os 194 Estados-membros da Organização Mundial da Saúde a empreender dois esforços paralelos: negociar um acordo para prevenir, estar preparado e responder às pandemias e fazer uma série de alterações específicas no atual regulamento sanitário internacional.

As negociações começaram numa época em que divisões sociais e políticas, assim como a polarização, criavam barreiras aparentemente impenetráveis entre muitos países.

Mas, em vez de sucumbirem a essas barreiras, as nações se uniram para tornar o mundo mais seguro diante de uma próxima pandemia. As negociações continuam nesta semana e na próxima, e os textos serão discutidos na 77ª Assembleia Mundial da Saúde, que começa no dia 27 de maio em Genebra.

Questões fundamentais, sobretudo no que diz respeito à forma como o acordo pandêmico garantirá a equidade, ainda estão em aberto. A operacionalização da equidade implica que todos os países tenham sistemas de saúde fortes para garantir a prevenção, o preparo e a resposta coletiva a futuras pandemias, onde quer que elas possam surgir.

Isso implica assegurar que os países tenham acesso garantido, em tempo real, ao que for necessário para proteger seus profissionais de saúde e comunidades, para que não vejamos uma repetição das desigualdades no acesso a vacinas, diagnósticos, terapia, equipamento de proteção individual e outras ferramentas vitais.

A segurança sanitária mundial depende da garantia de que não existem elos fracos na cadeia de defesa contra agentes patogênicos com potencial pandêmico; e a equidade é fundamental para garantir que todos os elos da cadeia sejam fortes.

É necessária liderança política do mais alto nível em todos os países, que garanta a colaboração global, em vez do nacionalismo, para superar as falhas que o mundo enfrentou durante a resposta à Covid-19.

O peso dessa responsabilidade compartilhada é acompanhado dos benefícios que um acordo forte proporcionará para a saúde e a segurança de todos.

O acordo pandêmico é um instrumento que salva vidas, semelhante a um desfibrilador para o mundo, que deve ser construído e oferecido em benefício de todos, reconhecendo que ninguém pode ficar para trás. E, acima de tudo, deve proteger e promover a saúde global quando for necessário, protegendo nossos entes queridos, jovens e idosos.

*Tedros Adhanom Ghebreyesus é diretor-geral da Organização Mundial da Saúde

Um comentário:

  1. Excelente! E lembrar que o GENOCIDA combatia as recomendações da OMS durante a pandemia, e até queria retirar o nosso país desta organização mundial... Deixou um GENERAL como ministro da SAÚDE durante todo o ápice da pandemia, e assumiu as decisões mais importantes sobre saúde pública, sem ter o menor conhecimento sobre isto. Não conheço maior exemplo de arrogância e imbecilidade reunidas!

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