O Globo
País andino não é o único a conviver com tentativas de tutela militar sobre o poder civil
A ação se deu à luz do dia, com transmissão
ao vivo na TV. Tanques do Exército cercaram a Praça Murillo, sede do poder
político na Bolívia. Um blindado avançou contra o palácio presidencial e
arrombou o portão, abrindo caminho para a invasão fardada.
A quartelada de quarta-feira deixou o governo
de Luis Arce por um fio. Após horas de tensão, o general Juan José Zúñiga foi
preso, e a tentativa de golpe foi derrotada. Mas o episódio expôs os fantasmas
que ainda rondam a democracia na América Latina.
No início da semana, Zúñiga disse estar “atento aos maus bolivianos” e ameaçou prender o ex-presidente Evo Morales para impedi-lo de voltar ao poder pelo voto. “Somos o braço armado do povo”, justificou.
Destituído, o general organizou um levante
para emparedar Arce. Após ocupar o palácio, sentiu-se à vontade para anunciar
mudanças no governo. Não contava com a resistência do presidente, que rejeitou
o ultimato, nomeou novos chefes militares e conseguiu sufocar o motim.
A Bolívia tem um longo histórico de golpes,
mas não é o único país da região a conviver com a tutela militar sobre o poder
civil. Desde o tuíte do general Villas Bôas, em 2018, o Brasil assiste à volta
do protagonismo político dos quartéis. O fenômeno resultou na ascensão de Jair
Bolsonaro e no 8 de janeiro, que tentou reverter a derrota do capitão nas
urnas.
A falta de apoio internacional contribuiu
para o fracasso das duas intentonas. Enquanto Zúñiga punha seu plano em marcha,
líderes sul-americanos deixaram claro que rechaçariam uma quebra da legalidade.
Isso não ocorreu em 2019, quando o Brasil celebrou a derrubada de Morales e foi
o primeiro país a reconhecer Jeanine Añez, que se autoproclamou presidente
interina.
Na quarta, os deputados bolsonaristas Bia
Kicis e Ricardo Salles chegaram a celebrar a nova quartelada em La Paz. Desta
vez, os golpistas bolivianos não tiveram sorte. Ontem o país anunciou a prisão
de mais 17 participantes da insurreição, incluindo militares da ativa.
Ainda bem que não deu certo.
ResponderExcluir