Folha de S. Paulo
General palpitou sobre eleição, deu pitaco
sobre decisão judicial, ameaçou usar a força e fracassou
O comandante do Exército da Bolívia acordou
na segunda-feira (23) disposto a dar palpites sobre a política do país. O
general Juan
José Zúñiga foi a um canal de TV e afirmou que Evo Morales não
tinha o direito de disputar a eleição de 2025. Depois, ameaçou prender o
ex-presidente caso ele tentasse voltar ao poder.
Demitido na noite seguinte, Zúñiga apelou para uma intervenção direta. Na quarta (26), o general levou militares às ruas, usou um blindado para arrombar a sede do governo e pôs de pé uma tentativa de golpe contra o presidente Luis Arce. Declarou insatisfação com a situação da Bolívia e exigiu a troca de ministros.
O motim do general inconformado não teve
apoio na cúpula das Forças
Armadas. Arce trocou os comandantes, e as tropas voltaram para os quartéis.
O episódio é mais um sinal da fragilidade da democracia em alguns países da
região, mas também serve como lembrete das razões para manter os militares
longe da política.
Zúñiga vinha protagonizando um bate-boca
público com Morales. Dizia que ele era um mitômano e dava pitacos sobre a
decisão do Tribunal Constitucional que determinou que o
ex-presidente não poderia concorrer a um novo mandato. Deve ser terrível
viver num país em que o
comandante do Exército age como comentarista de questões que cabem só ao
Judiciário.
Ao pôr em marcha a tentativa de golpe, o
general disse que atendia ao clamor popular e declarou que as forças de
segurança estavam incomodadas com a administração política da Bolívia. Zúñiga e
seus colegas de farda talvez tenham esquecido que só precisam esperar mais um
ano para entrar na fila da votação que pode eleger um novo governo.
Frustrados com a falta de adesão ao golpe
tramado por Jair Bolsonaro, aliados do ex-presidente brasileiro se assanharam
com a intentona criminosa no país vizinho. Eles sabem que o chefe tentou,
tentou e não conseguiu convencer generais graúdos a embarcarem na aventura.
O fracasso parece
doer até hoje no coração do bolsonarismo.
Verdade.
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