Folha de S. Paulo
'Pacto de governabilidade' com o centrão
exibe um governo que depende de uma bancada conservadora
As derrotas sofridas no Congresso levaram o
governo Lula a
traçar de maneira nítida os limites de atuação política deste mandato.
Operadores do presidente deixaram claro como nunca que o Planalto pretende se
concentrar na agenda econômica e poupar energias quando o
assunto esbarrar na pauta conservadora.
Essa escolha foi apresentada de maneira crua pelo líder do governo no Congresso. O senador Randolfe Rodrigues disse à Folha que o "pacto de governabilidade" de Lula com partidos de centro-direita (em especial PSD, União Brasil, PP e Republicanos) envolve "emprego e comida na mesa", sem incluir temas de costumes e segurança pública.
Feita de maneira explícita, a descrição expõe
um governo que depende de uma bancada conservadora. Segundo a lógica, Lula
negociaria o apoio desses parlamentares a propostas ligadas ao aquecimento da
economia e a programas sociais, mas teria que aceitar derrotas ou evitar
embates que poderiam aproximar o centrão da oposição.
O diagnóstico, saído do núcleo de articulação
do governo, reflete um raciocínio feito com frequência por grupos petistas
historicamente próximos de Lula. Para esses políticos, a esquerda corre um
risco grande de fortalecer seus adversários caso negligencie ganhos econômicos
e transforme a disputa com a direita numa guerra cultural ou moral.
Falta ao governo negociar essa escolha em
duas frentes. A primeira é seu eleitorado de esquerda, que tem demandas ligadas
à preservação dos direitos humanos e à proteção de minorias. Aí estão incluídos
grupos e ativistas que se identificam com plataformas defendidas publicamente
pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.
Além disso, Lula terá que descobrir até onde
vai a sustentação oferecida pelo centrão. Se esses partidos têm preferências
próximas da oposição, nada os impede de apoiar a
eleição de um candidato do outro lado. O líder do governo acredita
que o crescimento da economia deve manter a coalizão unida. A aposta é alta.
Sei.
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