segunda-feira, 10 de junho de 2024

Camila Rocha - Bolsonarismo sem Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Apoiadores do ex-presidente reconhecem que já existem outros quadros que podem conduzir seu projeto político

O Brasil se destaca no cenário internacional por ter declarado inelegível sua principal liderança de extrema-direita. Porém, passado quase um ano da decisão, os eleitores de Jair Bolsonaro continuam se guiando por suas declarações e apoios políticos.

Em uma série de entrevistas conduzidas com pessoas que votaram em Bolsonaro nos dois turnos em 2018 e 2022, realizada nos meses de fevereiro e março com o apoio da Fundação Friedrich Ebert no Brasil, foi possível compreender como o movimento político capitaneado por Bolsonaro é percebido atualmente por seus apoiadores.

Em comparação com entrevistas realizadas com eleitores de Bolsonaro desde 2017, há uma continuidade do desejo intenso em mudar radicalmente o país. Houve inclusive quem afirmasse sem meias palavras que "a revolução vai chegar".

Daí a ênfase na necessidade da luta contínua contra a corrupção, em defesa da família tradicional e pela adoção de medidas radicais de repressão contra o crime.

Tais desejos intensos de mudança entre os eleitores continuam a ser alimentados pela percepção de que Bolsonaro goza de grande apoio em público e em manifestações de rua, indícios de que o bolsonarismo segue mais vivo do que nunca.

Em sua visão, as manifestações da esquerda seriam muito menores em comparação com as manifestações de direita. Lula, ao contrário de Bolsonaro, teria medo de andar nas ruas e ser vaiado, o que comprovaria que o voto no petista se baseia apenas no conformismo social dos mais pobres, e não na mobilização de massas.

Quando questionados sobre o 8 de janeiro, a maioria dos entrevistados aponta que houve exagero na repressão às pessoas que participaram dos atos golpistas, considerando, sobretudo, a aplicação das penas de reclusão.

A possibilidade de declaração de estado de sítio por parte de Bolsonaro à época, com objetivo de anular as eleições, foi tida por vários entrevistados como uma medida radical que poderia fazer com que o país mudasse de fato.

Contudo muitos ponderam que Bolsonaro teria agido de forma cautelosa ao não decretar estado de sítio, pois o país poderia mergulhar no "caos" ou mesmo uma guerra civil, o que seria prejudicial para os brasileiros.

No entanto há uma compreensão generalizada de que Bolsonaro tenha cogitado decretar tal medida extrema por conta da dificuldade de transformar o país a partir das instituições existentes.

O entendimento de que Bolsonaro é perseguido pela mídia, pelo STF, pela esquerda e pelo sistema político em geral também segue generalizado. Porém, caso Bolsonaro venha a ser preso, os entrevistados afirmam que muitos de seus apoiadores continuariam a defendê-lo.

De qualquer forma, ainda que Bolsonaro perca parte de seu apelo, o bolsonarismo não depende de sua liderança.

Todos os entrevistados reconhecem que já existem outros quadros que podem conduzir seu projeto político, basta que sinalizem sua adesão enfática aos "princípios bolsonaristas".

Assim, enquanto a esquerda segue com enorme dificuldade em renovar suas lideranças com apelo nacional, a oposição se renova a cada dia sem maiores empecilhos. Sua criatura mais recente, alinhada ao espírito do tempo, já tem nome e sobrenome: Pablo Marçal.

 

3 comentários:

  1. Leonardo Varal10/6/24 08:59

    Pablo Marçal não chega nem em 5° lugar sem apoio explícito do Bolsonaro!! KKKK

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  2. Princípios bolsonaristas: liberdade absoluta pra mentir, apoio à tortura, combate integral às vacinas, tolerância com ataques às mulheres e aos homossexuais, desmanche da legislação ambiental, incentivo à grilagem de terras e ao desmatamento, abandono completo das populações indígenas, militarização de todos os serviços públicos, combate sem trégua às urnas eletrônicas, aumento da letalidade policial, incentivo ao armamento pessoal e aos clubes de atiradores, isolamento do país em relação às principais democracias, nenhum reajuste aos funcionários públicos, benefícios sociais só alguns meses antes de cada eleição.

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