O Estado de S. Paulo
Política econômica periclitante e retirada de
direitos ganham espaço na agenda pública
As prioridades do governo Lula e da oposição
empurram o país para retrocessos na economia e nos costumes. É tentador
atribuir isso à polarização política, que tem servido como explicação para
quase todos os dissabores nacionais.
Na verdade, os tais retrocessos encontram espaço na agenda pública mais pela omissão dos campos políticos opostos do que propriamente pelo confronto. São fruto do fato de que cada lado escolheu um campo de batalha diferente para concentrar seus esforços. A resistência que encontram na linha de frente adversária acaba sendo pequena.
Desde o início do seu terceiro mandato, Lula
assumiu como prioridade promover o crescimento econômico por meio de gastos
públicos turbinados. Para fazer isso sem causar uma catástrofe fiscal, o
Ministério da Fazenda engajou-se em uma cruzada arrecadatória. A relação do
governo com o Congresso, leia-se distribuição de cargos e emendas, esteve
focada nos seus objetivos da pauta econômica, com mais vitórias do que reveses.
Só recentemente começaram a aparecer as
primeiras derrotas do governo nessa área, como a renovação da desoneração da
folha de pagamentos e o subsequente fiasco na tentativa da equipe da Fazenda de
compensar a perda de arrecadação restringindo o abatimento de créditos do
PIS/Confins por empresas.
O bem-sucedido lobby empresarial nesses
episódios tem sido interpretado como um sinal de esgotamento do modelo de
ajuste fiscal pelo lado da receita. Um modelo que se torna uma bomba-relógio em
um contexto interno e externo que dificulta a redução das taxas de juros.
Mas até agora a oposição não representou uma
oposição, de fato, aos rumos escolhidos por Lula para a economia. Está mais
concentrada em avançar em sua pauta dos costumes, aquela que deixou parada
durante o governo de Jair Bolsonaro.
Em vez de confrontar a política econômica
periclitante de Lula, os parlamentares de oposição dedicam-se a promover leis
desenhadas para impor soluções demagógicas para a segurança pública, como a
proibição da “saidinha” de presos e a criminalização do uso de drogas, e para
restringir direitos, como a tentativa de proibir o casamento entre pessoas do
mesmo sexo e o recente projeto que pretende equiparar o aborto após as 22
semanas de gravidez ao homicídio, mesmo em situações legalmente permitidas.
O governo federal assiste ao avanço de todas
essas iniciativas sem apresentar uma grande resistência. Questão de
prioridades.
Resistir como se a força numérica está com eles.
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