Folha de S. Paulo
Governo erra ao espalhar que Lira é pato
manco na presidência da Câmara
Nada mais falso e danoso para o andamento dos
interesses do Planalto no Congresso que a disseminação da ideia de que Arthur Lira seja
um pato manco na presidência da Câmara.
Desde a virada do ano isso é sussurrado aos
ouvidos de analistas permeáveis a qualquer versão vinda do Palácio. Se a
história faz algum sentido, e essa até faria fosse outro o personagem,
sapecam-lhe o carimbo de "bastidor", e a coisa se espalha por
Brasília como tradução da realidade.
No caso específico, essa prática é o pano de fundo do rompimento do deputado com o ministro Alexandre Padilha. Justa ou injustamente, Lira julgou ter identificado no gabinete de Padilha a origem dos sussurros sobre a desidratação de seu poder.
Tenha sido ou não o articulador político do
governo o autor (mensageiro?), Lira o escolheu para mandar o recado de que
havia captado a mensagem. Pelo visto, perfeitamente entendida, pois de lá para
cá nunca mais se falou no assunto.
Entre outros motivos porque Arthur Lira vem
dando demonstrações de que controla a tropa. Nas votações e nos preparativos
da própria sucessão.
Providenciou uma dispersão de poder ao
dispensar o relator original (Aguinaldo
Ribeiro, do PP da Paraíba) da reforma
tributária, nomear 14 relatores para dois projetos de regulamentação
e, assim, concentrar nele a interlocução com o Planalto e setores interessados.
No jogo sucessório, vem mantendo (cozinhando
em fogo brando?) desde o ano passado quatro candidaturas possíveis sem se
definir publicamente por nenhuma delas. Justamente para não antecipar a
transferência de poder.
Enquanto isso dá as cartas segundo o critério
combinado com o presidente da República: na economia ajuda, na pauta de
costumes se abstém e na agenda cara à esquerda fica contra —e o governo que
lute para impor suas posições.
Se pato, Lira não é manco. Ao contrário:
divide para reinar até o fim e, por ora, nada de braçada.
Sei.
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