Folha de S. Paulo
Lula deixou o Congresso no vácuo, semeou descaso, natural que colha derrotas
Ainda na campanha, quando indagado sobre seus planos para se relacionar com um
Congresso cheio de novos poderes, o então candidato Luiz Inácio da Silva (PT) não demonstrava
preocupação. Dizia que resolveria tudo com muita conversa.
Transcorrido praticamente um ano e meio de governo, o presidente muito discursou, mas não resolveu nem conversou na forma e no conteúdo exigidos pela atual configuração do Parlamento.
Aqui não se fala do perfil ideológico, desde
sempre de centro-direita, com a esquerda minoritária. Foi assim em todos os
governos petistas, sendo que nos dois de Lula a coisa
fluiu. Nem sempre a poder de motivações republicanas, mas andou sem percalços,
no automático como habitual.
Era um tempo de Congresso submisso a cargos, emendas de liberação não
impositiva, presidente da República nos píncaros da popularidade e oposição
aveludada.
Isso mudou. O tempo passou, e Lula fez a Carolina na janela. Não deu o devido peso à
força da maioria de centro, direita e extrema-direita, que antes não tinha voz
nem o respaldo das "ruas" hoje conhecidas como redes sociais e que
tampouco dispunha do manejo do Orçamento da União.
Num primeiro ano dedicado a ambições
internacionais, Lula confiou no taco do passado, deixou o Congresso entregue a
articuladores cuja expertise não está à altura da ferocidade das onças agora
poderosas e dedicou-se à governança de palanque.
Semeou descaso, jogou no improviso, natural
que colha derrotas. Atribuí-las ao perfil ideológico dos parlamentares é
ignorar que o Legislativo lhe deu folga orçamentária na transição, aprovou o
arcabouço fiscal e ainda lhe conferiu medalha por ter tirado a reforma
tributária do campo das ilusões quase perdidas.
Nessa altura mais proveitoso para uma
correção de rotas seria se acertar internamente para conseguir responder à
velha pergunta comum à esquerda do século passado: qual é o rumo? Só então se
chega ao prumo.
Dora doriando.
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