domingo, 16 de junho de 2024

Elio Gaspari - A Super Casa Civil é ilusão

O Globo

Lula e a torcida do Flamengo sempre souberam que a eleição de 2022 produziu um Congresso conservador. Com quase dois anos de governo, entrou no inferno astral das derrotas parlamentares e cada hierarca aponta para um responsável. A raiz dos erros vem de Lula e tem data. Em março de 2023, ele reuniu o Ministério e disse o seguinte:

“É importante que toda e qualquer posição, qualquer genialidade que alguém possa ter, é importante que antes de anunciar faça uma reunião com a Casa Civil para que a Casa Civil discuta com a Presidência da República, para que a gente possa chamar o autor da genialidade e possa anunciar publicamente como se fosse uma coisa do governo.”

Lula achava que esse modelo de administração poderia funcionar e Rui Costa, seu chefe da Casa Civil, acreditou. Pensou até mesmo que poderia filtrar o acesso de ministros ao presidente.

Essa Super Casa Civil só funcionou no governo do general Emílio Médici (1969-1974). Ele não queria ser presidente e não gostava de política. Assim, a administração da quitanda ficou com o professor João Leitão de Abreu, a economia com Antonio Delfim Netto e a área militar com o general Orlando Geisel. Feita essa partilha, não queria que lhe levassem problemas.

Muitos outros presidentes sonharam com essa Casa Civil poderosa. Nunca deu certo, pois um cidadão que chega ao Ministério não está disposto a passar pelo crivo de um de seus pares, elevado à condição de bedel. Pena que Rui Costa tenha acreditado nessa fantasia, tornando-se o principal suspeito em quase tudo que dá errado.

Lula subiu a rampa achando que foi eleito por uma frente ampla de partidos quando ele foi eleito (com uma diferença de 1,8 pontos percentuais) por um arco democrático. A diferença entre o arco e a frente pode ser fulanizada na pessoa do ex-ministro Pedro Malan. Ele fez parte do arco, mas nada tem a ver com a frente. Malan vem alertando para os riscos dos gastos, mas só é ouvido por seus leitores.

A Super Casa Civil daria a Lula liberdade de ação para exercer um protagonismo internacional. Ele tentou, sem sucesso nem mesmo na América Larina.

O problema e sua solução estão onde foram deixados por Carlos Lyra:

“Vou pedir ao meu Babalorixá

Pra fazer uma oração pra Xangô

Pra por pra trabalhar gente que nunca trabalhou.”

Em tempo: Lula com agenda sideral e paralela é novidade. Nas suas versões 1.0 e 2.0 ele corria atrás da bola.

Escalado para bode

O PT está fazendo uma tempestade num copo d’água com a revelação de que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ao governador Tarcísio de Freitas que aceitaria ser seu ministro da Fazenda.

A inconfidência veio num contexto em que Campos defendia a candidatura do governador de São Paulo na eleição de 2026. Ele não é conhecido pela sua habilidade política fora do mundo dos números. A oferta, portanto, seria para um governo a ser formado depois da eleição de 2030. Até lá, muita água passará debaixo da ponte.

A indignação petista tem outro aspecto. Com a economia andando de lado e o cancelamento de várias promessas, convém que apareça um bode expiatório e Roberto Campos Neto é a figura ideal para esse papel.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota mas nunca acreditou na conversa de que se chegaria a um ajuste fiscal por meio de um aumento da receita. Lula, por exemplo, nunca disse que acreditava nisso.

Para alegria do cretino, a Faria Lima começa a expor publicamente seu ceticismo, porque no escurinho da avenida, ninguém acreditava no cumprimento de promessa.

O cretino sabe que a turma do papelório solidariza-se com quaisquer iniciativas de Brasília, até a hora em que a casa cai.

A eleição de São Paulo

As eleições municipais não são prévias das disputas presidenciais, mas o pleito de 2020 na cidade de São Paulo indicou que o bolsonarismo havia perdido o vigor de 2018. Em 2022, Lula e Fernando Haddad, seu candidato ao governo, ganharam no município de São Paulo, com alguma folga.

Sabe-se lá o que virá das urnas em outubro, mas é possível colocar um palpite na mesa.

Se Guilherme Boulos (PSOL-PT) levar a prefeitura, a reeleição de Lula será provável. Se Ricardo Nunes (MDB) for reeleito, ela se tornará improvável

Se a deputada Tabata Amaral chegar ao segundo turno, ela poderá se tornar a favorita. Neste caso, a reeleição de Lula dependerá muito de quem será o seu adversário.

Bancadas do crime

Em silêncio, a Polícia Federal está mapeando os candidatos a vereador e até a prefeito apoiados direta ou indiretamente pelo crime organizado.

Contam-se às centenas.

Guerra de egos

Há alguns meses a PUC do Rio reuniu sete economistas responsáveis pela formulação e a aplicação do Plano Real, que devolveu o valor à moeda nacional. É um bom documento, mas tudo indica que é o último.

Trinta anos mais velhos, alguns dos doutores cultivaram tanto seus egos que produzem saias-justas do tipo: “Se ele for convidado eu não vou e rompo relações contigo”.

Risco Brasil

Desde maio o indicador da percepção do Risco Brasil vem subindo. O suspeito de sempre é o mau estado das contas públicas, mas não deve ser desprezado o funeral da Operação Lava-Jato, com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) segurando as alças do caixão.

Para um investidor tradicional, um governo gastador é uma forte gripe, mas insegurança jurídica, aliviando-se larápios, é pneumonia.

Luz no fim do túnel

O repórter José Marques revelou que cinco ministros do Supremo Tribunal não comparecerão ao próximo evento a ser celebrado em Lisboa, sob a batuta do ministro Gilmar Mendes e de seu Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa.

São eles: Cármen Lúcia, Luiz Fux, Edson Fachin, Kassio Nunes Marques e André Mendonça.

Ordem nos quartéis

Para quem viveu quatro anos de sobressaltos com o ex-capitão falando no “meu Exército” uma das melhores coisas que aconteceu foi a costura do ministro da Defesa, José Múcio, com os três comandantes das Forças, sobretudo com o general Tomás Paixa, do Exército.

Os dois tocam de ouvido e falam pouco. Quando falam não põem bravatas na mesa.

Pode parecer exagero, mas essa paz dos quartéis é a melhor conquista do Lula 3.0.

4 comentários:

  1. " Com a economia andando de lado e o cancelamento de várias promessas, convém que apareça um bode expiatório e Roberto Campos Neto é a figura ideal para esse papel. "

    😏😏😏

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  2. Eremildo, o idiota, tem semelhanças com Campos Neto, o bolsonarista.

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  3. As mesmas saias justas entre os 7 pais do Real acontecem entre os tucanos graduados que tentam comandar os resíduos do PSDB. Talvez isto não seja mera coincidência.

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  4. Saia justa,curta e com uma fenda do lado,rs.

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