domingo, 9 de junho de 2024

Hélio Schwartsman - Novas guerras frias

Folha de S. Paulo

Livro de jornalista do New York Times esmiúça de forma didática as mudanças geopolíticas dos últimos anos

Se você é um daqueles que acreditou na tese do fim da história, de Francis Fukuyama, ou comprou a ideia de que a integração econômica com o Ocidente levaria a uma liberalização da China, então precisa ler "New Cold Wars", de David Sanger. Vai descobrir não apenas que estava errado como também que estava errado em boa companhia. Grande parte da elite dos servidores públicos dos EUA, civis e militares, ao longo de cinco administrações, atuou com base em crenças semelhantes. Mas, desde a consolidação de Xi Jinping no poder na China e especialmente desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, ficou claro que essas teorias estavam erradas.

Sanger é o principal correspondente do jornal The New York Times em Washington, cobrindo a Casa Branca e relações internacionais. Conversa diariamente com secretários, generais do Estado-Maior e líderes mundiais. São essas as pessoas que lhe servem de fonte para o livro, que pode ser descrito como um obituário da era pós-Guerra Fria, em que os EUA atuaram de forma quase hegemônica. Esses tempos acabaram. A nova ordem inclui um mundo bem mais instável, do que dão exemplo a Ucrânia e a guerra em Gaza, e uma China ascendente que não deixará de desafiar os EUA —embora não necessariamente os dois países chegarão às vias de fato.

O livro tem uma pegada bem jornalística. Lê-se-o como se fosse uma série de longas reportagens. É bastante didático também. Oferece, por exemplo, explicações convincentes para o fiasco militar inicial dos russos, algo que me intrigava.

Taiwan ocupa lugar central, não apenas por ser território cobiçado pela China como também por sediar a principal fábrica de chips avançados do planeta, que não pode ser facilmente transportada para outro lugar. Há discussões interessantes sobre o futuro das tecnologias de guerra. O grosso, porém, é geopolítica, com alertas para o perigo de uma volta de Trump à Casa Branca.

 

Um comentário: