Valor Econômico
Aproximação do presidente do BC com Tarcísio leva petista a compará-lo à dobradinha Moro/Bolsonaro
Depois de meses de trégua, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva voltou a colocar Roberto Campos Neto na
mira e, desta vez, o presidente do Banco Central não tem do que reclamar. Em
entrevista à CBN, comparou-o ao senador Sergio Moro (União-PR), cuja
adesão ao governo Jair Bolsonaro, assumindo o Ministério da Justiça, revelou a
partidarização da Lava-Jato. A afirmação de Lula veio por meio de pergunta
retórica: “Roberto Campos Neto vai repetir Moro, de rabo preso com a política?”
Não ficou por aí. Disse ainda que o
presidente do BC nos seus primeiros mandatos, Henrique Meirelles, foi mais
independente do que Campos Neto é do governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas: “Ele [o governador] interfere mais do que eu. Pra fazer aquela festa
para ele [Campos Neto], deve estar achando a política monetária uma maravilha”.
Meirelles, que na manhã desta terça, participou de uma audiência na Comissão de Constituição e Justiça sobre a proposta de emenda constitucional que amplia a autonomia do BC, confirmou a informação de Lula: “O compromisso que assumiu comigo de autonomia foi, de fato, honrado”.
Na segunda-feira da semana passada, Campos
Neto não apenas foi à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) receber uma
homenagem, como também foi recebido em jantar no Palácio dos Bandeirantes, sede
do governo paulista, com direito a 70 convidados.
Vários dos comensais já tinham ouvido do
próprio presidente do BC o relato de suposto convite para se tornar ministro da
Fazenda de eventual governo de Freitas. Outros, ainda, sonham com o próprio
“pai do Pix” na Presidência da República caso o governador opte por uma
reeleição ao cargo. Apesar de atenderem ao convite, havia convidados de peso
que não gostaram de ver a principal autoridade monetária do país tão enfronhada
na política.
Como a entrevista foi no primeiro dia da
reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a fala do presidente deu
munição a quem vê afronta à autonomia do BC. Poderia ter sido poupado se
tivesse se limitado a criticar a politização sem uma ofensiva tão aberta contra
a política de juros, naturalmente contaminada pela atuação da principal
autoridade monetária do país.
Lula critica Campos Neto desde a transição.
Selou uma trégua depois de encontrá-lo, em setembro de 2023, por iniciativa de
Fernando Haddad. Só voltou à carga agora depois que seu ministro já havia
assumido a linha de frente na crítica ao presidente do BC.
Lula, porém, tomou vacina contra um mercado
abespinhado. O presidente não se limitou a dizer que a escolha para substituir
Campos Neto, processo que deve ser antecipado para agosto, será guiado pelo
duplo compromisso com “meta de inflação e crescimento” de alguém “maduro,
calejado, responsável, que tenha respeito pelo cargo e não se submeta a
pressões do mercado”.
Foi adiante ao manifestar uma posição
desconhecida até aqui no debate sobre a conjuntura de pressão fiscal. Ao ser
indagado pelos entrevistadores Cássia Godoy e Milton Jung se descartava medidas
mais drásticas como a desvinculação da Previdência da política de valorização
do salário mínimo ou uma mudança no sistema de pensões dos militares — regime
que, proporcionalmente, é o mais deficitário —, reclamou dos empresários que
desfrutam de isenções e cobram corte de gasto social, mas disse: “Não descarto
nada”.
E lembrou a reforma da Previdência do seu
primeiro governo, que avançou na taxação dos inativos que o governo anterior,
de Fernando Henrique Cardoso, não havia sido capaz de fazer. Haddad, vem sendo
cobrado pelo mercado sobre o apoio que tem de Lula e não se cansa de se queixar
do presidente do BC. Nesta entrevista, Lula deixou claro seu apoio em ambas as
investidas.
Sei.
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