O Globo
A ascensão da direita no mundo, com a possibilidade de vitória de Trump nos Estados Unidos, é fator que certamente influenciará na política interna brasileira, numa região em que também a direita vem crescendo
A comemoração da direita brasileira pelo
resultado das eleições para o Parlamento Europeu, com a ascensão da direita em
suas várias versões, especialmente a extremista, tem razão de ser. Mas não
significa que a União Europeia esteja à beira de ser dominada pelos
direitistas, nem que o mundo vá inexoravelmente nessa direção. Esse ambiente
político, porém, de embate na Europa, pode ter consequências no Brasil, que
desde 2018 é palco de uma disputa entre esquerda e direita, representando um
retrocesso político de graves consequências.
Durante cerca de 25 anos, superada a disputa entre Collor e Lula, o PSDB, de centro-esquerda, enfrentou a esquerda representada pelo PT de Lula, oferecendo ao eleitor uma visão social da disputa presidencial. Nesse período, não havia político que quisesse ser identificado com a direita, que se abrigou sob as asas dos tucanos.
Bolsonaro, em 2018, teve a sensibilidade
política de tentar explorar essa direita que estava sem rumo depois de seguidas
vitórias petistas. A direita, e a extrema direita bolsonarista, saiu do armário
com a possibilidade de derrotar o petismo, depois da prisão de Lula, e hoje
representa fatia ponderável do eleitorado.
A ascensão da direita no mundo, com a
possibilidade de vitória de Trump nos Estados Unidos, é fator que certamente
influenciará na política interna brasileira, numa região em que também a
direita vem crescendo. Assim como na Europa, a direita da América Latina também
cresce por questões mais sociais que econômicas. Esse, aliás, é um problema
para Lula. Não basta mais crescer economicamente, há outras questões em jogo.
Na Europa, as consequências da imigração têm
papel preponderante no crescimento da direita, entre elas o aumento dos crimes.
Na América Latina, menos que a economia, provocam reações direitistas as
políticas sociais e identitárias e um fenômeno explicável pelo medo sem base na
realidade: o receio do comunismo. Na Europa, especialmente na Alemanha, em
regiões que têm lembranças do comunismo, esse é um ponto crucial para entender
a ação reacionária dos eleitores.
O crescimento da direita entusiasma os
bolsonaristas extremistas e direitistas com uma perspectiva mundial favorável,
no que têm razão. A ascensão da direita na eleição para o Parlamento Europeu
foi um fato importante, mas, embora a extrema direita tenha aparecido com
destaque, quem brilhou na campanha foi o grupo de centro-direita.
Ao mesmo tempo, no conjunto do Parlamento
Europeu, a extrema direita e a direita, embora em ascensão, ainda são
minoritárias. Embora tenham perdido tamanho, os partidos de centro,
centro-esquerda e esquerda ainda são majoritários, na proporção de 65% para
35%. Por isso o presidente da França, Emmanuel Macron, dissolveu a Assembleia
Nacional francesa e chamou novas eleições, provavelmente com receio de que a
onda direitista na Europa aumente com o passar do tempo. Ele não quer dar a
chance de a direita crescer excessivamente.
Na França, nem mesmo o orgulho de sediar uma
Olimpíada consegue barrar a insatisfação que, no entanto, ainda não chegou ao
ponto de dar uma vitória ao partido de Marine Le Pen, que tende a perder
qualquer disputa de segundo turno. Mas essa tendência está enfraquecendo, e
Macron pretende continuar mantendo o controle político estancando a progressão
direitista interna.
Na Alemanha, não seria surpresa se novas
eleições também fossem convocadas. É possível também que se crie um ambiente
político não muito favorável, despreocupado com as consequências nos direitos
dos imigrantes, mais interessado em coibir as consequências da imigração, fator
que tem levado a direita a melhorar nas urnas. As decisões dos governos serão
importantes nesse sentido, e tudo indica que a ação governamental será mais
rigorosa.
Jesus!
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