O Globo
O mau uso do sistema de crédito do PIS/Cofins
explica uma parte da gritaria do empresariado contra a MP 1227, que foi
devolvida pelo Senado
Algumas empresas estariam se creditando indevidamente do PIS/Cofins e isso é que teria gerado tanta gritaria em relação à MP 1227/24, aquela que acabou devolvida pelo Senado. É essa a informação de técnicos da Receita. Alguns créditos não eram devidos, mas as empresas estariam usando os supostos créditos para pagar tributos como Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido, recolhimento previdenciário e outros. Os combustíveis foram desonerados no governo Bolsonaro e, por isso, as distribuidoras não pagaram PIS/Cofins, mas querem se creditar do imposto pago pelas refinarias. Isso, numa primeira análise, daria um custo tributário de R$ 20 bilhões.
O setor de combustíveis foi desonerado de
PIS/Cofins pela lei 192 de 2022, feita pelo governo Bolsonaro para reduzir os
preços da gasolina e diesel em ano eleitoral. As distribuidoras, por causa
desse benefício, venderam combustível sem PIS/Cofins, ou seja, não recolheram o
imposto. No entanto, algumas empresas passaram a usar os créditos do que não
pagaram para quitar tributos em geral.
– A tributação de PIS/Cofins é monofásica no
setor, exceto álcool que é bifásica. Não há tributação ao longo da cadeia. Não
há lógica em distribuidora acumular crédito. Esses créditos que acumularam
acabam sendo usados para “pagar” tributos como Imposto de Renda, Contribuição
Social sobre Lucro Líquido, recolhimento previdenciário e até tributo que foi
retido na fonte, como imposto de renda e contribuição previdenciária dos
trabalhadores — explicou a fonte ouvida.
Como os lançamentos dos créditos são feitos
pelas próprias empresas, é preciso que o assunto seja analisado, mas o
entendimento é que se o setor de distribuição não pagou o PIS/Cofins não tem
direito a crédito para usar em pagamento algum de imposto. O que eles
entenderam, na Receita, é que o mau uso do sistema de crédito do PIS/Cofins
explica uma parte grande da reação forte que houve contra a MP 1227 que foi
devolvida pelo Senado.
Outra parte das críticas à MP decorreu do
entendimento dos exportadores de que eles seriam atingidos. Mas a limitação de
uso de crédito de PIS/Cofins não atingiria os exportadores, até porque a lógica
da reforma tributária é a de desonerar completamente a exportação. Para os
exportadores isso não ficou claro no texto da Medida Provisória e deveria ter
ficado. Comenta-se na Receita que a reação veio também de setores dos quais não
se esperava que houvesse reação. Portanto, a impressão é que pode ter atingido
quem estava indevidamente usando a MP.
A grita contra a MP, que não tramitará, foi
generalizada, mas alguns foram mais veementes como o empresário Rubens Ometto,
da Cosan e Raízen, que entre seus vários negócios tem também distribuição de
combustíveis. O Instituto Brasileiro de Petróleo protestou em nota e avisou que
a Ipiranga já havia comunicado que aumentaria os preços dos combustíveis, caso
a proposta prevalecesse. O que eles dizem é que o governo tem na prática
aumentado impostos através de medidas que reinterpretam a maneira como quitar o
tributo. Fontes da Receita dizem é que nesse caso havia o objetivo de
restringir o uso dos créditos do PIS/Cofins, mas o problema é que existe também
o uso indevido desse crédito tributário.
Um grande nó do sistema tributário brasileiro
sempre foi o excesso de subsídios, renúncias fiscais e brechas para pagamento
de menos impostos. Em alguns casos usando direitos estabelecidos na lei e em
outros casos fazendo interpretação oportunista das leis. É o que se diz na
Receita estar acontecendo com o PIS/Cofins como nesse caso das distribuidoras
de combustíveis beneficiadas pela lei que deu isenção desse tributo na gasolina
e no diesel. Não recolheram e querem ter crédito sobre o que não recolheram.
Ontem, após a reunião com o presidente, os
ministros Simone Tebet e Fernando
Haddad disseram que a conta de subsídios e benefícios
financeiros chegou a R$ 646 bilhões em 2023 e que, diante do número, o
presidente Lula teria ficado “extremamente mal impressionado”. O TCU também já
havia alertado para o custo cada vez maior dos benefícios tributários recebidos
por empresas e setores no Brasil, e que se acumularam ao longo do tempo. Têm
crescido sempre. No ano passado subiram 8%. Segundo Tebet, a equipe econômica,
por ordem do presidente, vai se debruçar sobre o assunto.
Sei.
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