Valor Econômico
O Banco Central (BC) melhorou muito sua comunicação nas duas gestões dos últimos oito anos. Apesar dos avanços, a comunicação pode ser aperfeiçoada ainda mais, com aprimoramento da relação com os demais entes públicos, maior transparência das mensagens da instituição, bem como com cuidados extras para conter a propagação de informações falsas ou viesadas. Avanços na comunicação sobre a gestão monetária incluem, por exemplo:
Maior detalhamento do comunicado do Copom: desde julho de 2016, o documento é detalhado --ao invés do formato anterior com uma ou duas frases obscuras. O comunicado contém previsões de inflação, fatores de risco em ambas as direções, votação de todos os membros e explicações sobre as decisões. Os ruídos gerados após o comunicado da reunião de maio de 2024, sem justificativas sobre a votação a favor do corte da taxa Selic de 50 pontos-base pelos quatro diretores indicados no atual governo e contra a decisão de redução de 25 pontos-base pelos cinco diretores escolhidos na gestão anterior, confirmam que é necessário maior aprofundamento sobre visões e votações divergentes. A postergação dessas explicações para a ata, publicada na terça seguinte à reunião, é equivocada. Informações mais precisas e tempestivas trazem benefícios óbvios, apesar dos custos da ocupação de uma maior parte do 2º dia de reunião com a discussão sobre o teor do comunicado.
Fim de reuniões privadas sobre conjuntura
econômica: encontros exclusivos geram ruídos desnecessários ao
funcionamento do mercado, apesar do provável esforço de membros do Copom para
só transmitirem mensagens publicadas em documentos da instituição ou divulgadas
em apresentações públicas - BC disponibiliza apresentações de seus membros e
transmite ao vivo a maior parte das suas participações em seminários e eventos
fechados. Mesmo assim, as reuniões privadas permitem a disseminação de
especulações sobre o teor desses encontros, sem que a maioria dos agentes de
mercado possa interpretá-las adequadamente. Discordo do argumento de que essas
reuniões são úteis para obtenção de informações relevantes que não seriam
partilhadas no caso de encontros abertos, pois a maioria das instituições
beneficiadas não é capaz de gerar informação primária não disponível ao BC por
outros meios. Encontros privados deveriam se limitar, portanto, a temas
específicos, como assuntos institucionais, regulação e supervisão bancária.
Encontros exclusivos geram ruídos ao
funcionamento do mercado e deveriam ser limitados
Forte limitação de participações em eventos
de instituições reguladas pelo BC: mesmo que as apresentações de membros
do Copom nesses encontros venham sendo transmitidas ao vivo nos últimos anos,
os benefícios para a propagação da visão e das políticas da autoridade
monetária não são significativos. Não faz muito sentido que os representantes
do BC participem de eventos restritos voltados, notadamente, para ampliação de
networking e marketing dos organizadores.
Maior regularidade nas reuniões com o
Executivo: o BC poderia tornar mais frequente suas reuniões com o governo,
até para evitar comentários como os do ministro da Fazenda de que os encontros
com o BC para tratar de conjuntura são esparsos frente ao número desses
compromissos com instituições financeiras. A ampliação de reuniões com as
diversas instâncias do governo disseminaria melhor a leitura da autoridade
monetária, reforçaria a compreensão de efeitos de políticas públicas na área
bancária e monetária, bem como reduziria atritos do governo com o BC.
Aumento de encontros nas duas casas
legislativas: a maior influência dos congressistas na definição de
políticas públicas e do orçamento requer a ampliação do relacionamento do BC
com o Congresso. Esse intercâmbio poderia ocorrer por meio de um maior número
de apresentações em comissões parlamentares do Senado - e.g., Assuntos
Econômicos (CAE) - e da Câmara dos Deputados - e.g., Comissão de Finanças e
Tributação. A confirmação de mais reuniões regulares do presidente e de
diretores do BC nessas comissões tornaria o relacionamento mais fluido e melhoraria
o monitoramento pelos representantes da sociedade.
Realização de reuniões regulares com
indústria, serviços e agropecuária: além dos compromissos esporádicos com
empresas e representantes setoriais, bem como dos relatos dos bancos sobre o
estado da economia, encontros periódicos com federações desses segmentos, bem
como com grandes empresas - em particular aquelas com sólidas áreas de
planejamento e análise econômica, melhorariam a avaliação do desempenho da
economia e aprofundariam a comunicação do BC.
Publicação periódica de relatório sobre
atividade econômica: além da leitura presente no Relatório de Inflação
trimestral, o BC poderia elaborar documento periódico com discussões setoriais
mais detalhadas e com informações qualitativas mais precisas - Beige Book do
banco central americano seria um possível modelo. Reuniões trimestrais nas
representações regionais do BC com diversos setores contribuiriam para a
captação desses dados. Em outra frente, o BC poderia estimular a incorporação
nas pesquisas do Focus de projeções de empresas e órgãos representativos com estruturas
mais robustas de análise econômica.
Maior detalhamento dos modelos de projeção: um
avanço marcante da atual gestão do BC na sua comunicação foi a divulgação de
detalhes dos seus principais modelos de projeção. A autoridade monetária
poderia avançar com a criação de uma página com códigos desses modelos e
especificações precisas das variáveis utilizadas, inclusive com a liberação das
respectivas séries estatísticas. Mais adiante, o BC poderia permitir a
realização de simulações na sua própria página, contribuindo para melhor
compreensão dos resultados dos modelos.
A agenda de avanços não está restrita às questões de política monetária. O BC tem se empenhado para implementar e divulgar aprimoramentos em diversas áreas, como o Pix, a internacionalização da moeda, o open finance e a tokenização da economia. A esperança é de continuação dos avanços e da melhoria da comunicação nos próximos anos.
E não é que abafaram a descoberta das contas CC5 !
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