O Globo
Presidente parece ter despertado para o
crescimento dos nomes da direita nas cidades mais importantes
Depois de tentar ao máximo adiar a discussão
da própria sucessão, Arthur Lira surpreendeu a todos ao anunciar, durante o
jantar de aniversário de um deputado nesta semana, em Brasília, que em agosto
anunciará o nome que apoiará à presidência da Câmara.
Também afastou a ideia de Lula vir a vetar o
nome. Das duas, uma: ou Lira acredita que o presidente abrirá mão completamente
de ter qualquer voz na escolha do comandante da Casa onde vem enfrentando mais
problemas de governabilidade, ou desistiu de bancar a postulação do líder do
União Brasil, Elmar Nascimento (BA), que Lula já disse aos quatro ventos não
aceitar de jeito nenhum.
Ao antecipar uma escolha que pretendia postergar ao máximo, Lira demonstra que pretende selar um acordo com o governo para a eleição interna: 1) enquanto sua caneta ainda está cheia, e a pauta do Executivo no ano não foi votada; e 2) simultaneamente às eleições municipais, e não depois.
Essa pororoca das eleições é algo que pode
influenciar o jogo interno pela composição das mesas das duas Casas. A depender
da correlação de forças políticas que emergir das urnas em outubro, pode haver
mudança e correção de rota nas coalizões em Brasília, tanto a que dá (certo)
apoio a Lula quanto a que se aglutinou nos últimos anos em torno do cacique
alagoano, que ele quer manter unida para fazer o sucessor e ter um nível de
apoio que o preserve quando voltar à planície.
Lula parece ter acordado, nesta semana, para
a importância de coordenar as alianças em que estão o PT e os partidos da base
para as campanhas municipais. Teve de fazer intervenções específicas nas três
principais capitais: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Em todas elas,
o bolsonarismo avançava de maneira preocupante para o presidente.
Fora do poder, inelegível, correndo riscos
também na seara penal, nas várias investigações contra ele na Polícia Federal e
no Supremo Tribunal Federal, Jair Bolsonaro tem apostado todas as fichas em
manter sua força política como forma de pressão sobre a Justiça. Dessa
estratégia, faz parte sair forte do pleito municipal e, assim, construir
candidatos competitivos aos governos, à Presidência e — obsessão maior do
ex-presidente — ao Senado, onde espera colocar em marcha a anistia para si e
para seus aliados e, sobretudo, o impeachment de ministros do STF.
O nível de envolvimento de Bolsonaro e da
cúpula do PL na eleição municipal até aqui era bem mais visível que o de Lula.
O presidente parece ter despertado para o crescimento dos nomes da direita nas
cidades mais importantes e decidiu botar o bloco na rua.
Debelou uma rebelião do PT com a candidatura
de Guilherme Boulos, manifestada no corpo mole, na recusa em ajudar a pagar os
boletos e, pior de tudo, na adesão velada de nomes famosos do petismo na
capital à candidatura do prefeito (e candidato bolsonarista) Ricardo Nunes.
A segunda iniciativa do presidente foi para
tentar pressionar Eduardo Paes (PSD) a aceitar um vice petista. Algo que parece
mais para inglês ver, pois todo mundo sabe que a pretensão do prefeito do Rio é
ter um companheiro de chapa do mesmo partido para ter segurança de renunciar e
se candidatar ao governo daqui a dois anos.
Por fim, Lula promoveu uma aliança entre o PT
e o PSOL em Belo Horizonte, não imaginando que essa aliança tenha alguma
chance, mas apostando numa jogada combinada com o prefeito Fuad Noman, também
do PSD de Gilberto Kassab, que pressupõe aliança contra o bolsonarismo no
segundo turno
Diante de tantos lances de bastidores, o que
se tem são três eleições já deflagradas (afinal, todos os caminhos levam a
2026). A conferir se esse ambiente permitirá que as votações ainda necessárias
neste ano, sobretudo a regulamentação da reforma tributária, não fiquem em
terceiro ou até quarto plano.
Pois é.
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