Folha de S. Paulo
Lula 1 e 2 foi de PIBão, década de 10 foi de
desastre e 2024 corre o risco
A
economia brasileira cresceu 0,8% no primeiro trimestre de 2024 em
relação ao último trimestre de 2023, como previsto. Para o número ficar menos
impalpável, vamos fazer o exercício de imaginar que a economia crescesse
a esse ritmo, trimestre ante trimestre, até o fim deste ano. O crescimento de
2024 seria de algo perto de 2,2%. Em
2023, havia sido de 2,9%. Em 2022, de 3%.
Ruim? Dadas as expectativas e previsões,
muito erradas em 2022 e 2023, de modo algum.
Dado o crescimento médio que se viu de 2017 a
2019, de 1,4% ao ano, também não (trata-se do período entre a Grande Recessão
de 2014-2016 e a epidemia, de 2020).
Dadas as previsões de crescimento potencial de 1,5%, também não é um ritmo ruim. Crescimento potencial: em tese e sem mudanças produtivas relevantes, o crescimento regular que o país poderia ter sem correr o risco de alta da inflação ou passar por outros desequilíbrios incapacitantes, por exemplo.
Um crescimento em torno de 2,2% está longe do
ritmo médio de Lula 1
e 2, de 4,1%. Está perto da média (insustentável) de Dilma 1, de 2,5%.
No entanto, o crescimento que importa, o da
renda (PIB) per
capita, deve ser um tico mais acelerado. No final da primeira década do século,
a população crescia a 1% ao ano; o ritmo veio caindo. Agora, deve estar em 0,5%
ao ano.
Será possível manter esse ritmo próximo de
2,5% ao ano?
Quanto a fatores mais circunstanciais ou de
curto prazo em geral, há problemas que estão além do nosso controle.
O
desastre horrível no Rio Grande do Sul pode tirar uns décimos do PIB.
Não sabemos. Não temos ideia do tamanho nem da espécie da destruição.
Houve perdas de renda. Pessoas e empresas não
puderam ou ainda não podem trabalhar. Mas talvez tenha se perdido muita
capacidade produtiva: infraestrutura, de instalações produtivas, máquinas e
equipamentos e, pouco comentado, solo.
Não se sabe se o estado pode ser reconstruído
nas mesmas bases. Um esforço bem pensado e financiado pode reerguer os gaúchos;
atenuar ou até mais do que compensar a destruição. Ainda não se sabe como ou em
quanto tempo.
A
alta mais duradoura das taxas de juros nos EUA terá o efeito de
limitar a baixa das taxas por aqui, também não se sabe em quanto ou por quanto
tempo. Má notícia que não estava no roteiro deste 2024.
No que diz respeito àquilo sobre o que temos
algum controle, os problemas sabidos no controle do déficit público e as
dúvidas a respeito da atuação do Banco Central vão também limitar a queda da
Selic e já elevaram as taxas básicas de juro de longo prazo.
O efeito da queda da Selic de agosto de 2023
para cá facilitou e deve facilitar um pouco o aumento do crédito por uns meses
adiante. Sem melhorias no quadro econômico (déficit, inflação), a coisa para de
melhorar em 2025.
Para ser mais otimista, temos de lembrar que
o desemprego baixa, há mais gente trabalhando, a média dos salários cresce e a
inflação, até agora, cai (em termos anuais). Há alertas de que isso não vai
durar muito mais. Quanto? Não sabemos e temos errado muito a respeito.
Pode ser que o melhor da desinflação tenha
passado (baixa do preço médio dos alimentos e de bens industriais, barateados
pelo fim de problemas globais de abastecimento e pela enxurrada de produtos
chineses baratos). Vamos ver.
No curtíssimo prazo, no primeiro trimestre, o
PIB foi animado também pela renda extra do pagamento dos precatórios caloteados
por Jair Bolsonaro e pela antecipação dos pagamentos devidos ao longo de 2024.
Aumentos do salário mínimo e de benefícios sociais dão outro impulso.
O crescimento tem sido mais balanceado, menos
dependente de agricultura e exportações. A "sensação térmica" do PIB
deve ser maior.
O investimento em
instalações produtivas, residências, máquinas, equipamentos ou softwares voltou
a crescer, 4,1% no trimestre, mas ainda no vermelho no acumulado dos últimos
quatro trimestres. A taxa de investimento (a parcela do PIB dedicada a aumentar
a capacidade produtiva) é das piores do século, perdendo apenas para aquela dos
anos da Grande Recessão e da epidemia, em 16,7%.
Mesmo que se dê o desconto de que a medida
pode estar afetada pela variação de preços dos bens de capital, é uma taxa
MUITO BAIXA, que não permite voos de crescimento por prazos mais longos.
Estamos crescendo mais à base de consumo, não de investimento, e de aumento de
gasto do governo, o que tem limite.
Não é voo de galinha, mas de um pato que pode
cansar.
É?
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