Folha de S. Paulo
Imigração alemã é uma oportunidade para
refletir sobre o passado e repensar o futuro
Os 200 anos da
imigração alemã para o Brasil são uma oportunidade para
refletir sobre o passado e repensar o futuro. A data da chegada dos 39
primeiros colonos a São
Leopoldo (RS), berço da imigração alemã, é 25 de julho,
também Dia
Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional
de Tereza de Benguela (líder quilombola).
Por ironia, a celebração da história de esperança e superação de um povo estrangeiro que fugiu de guerras e da pobreza em busca de uma vida melhor expõe as desigualdades perpetradas pelo Estado com o racismo institucional e o massacre indígena no Novo Mundo.
Nesse sentido, é muito interessante o documentário produzido pela Deutsche Welle (DW), TV pública
alemã, sobre o bicentenário. O vídeo aborda a história a partir da perspectiva
de uma família de imigrantes e,
sem romantizar, tira o europeu do papel de herói, expondo capítulos carregados
de "sonhos e traumas para lados e povos distintos".
No último país das Américas a abolir a escravização,
o progresso e o desenvolvimento foram associados ao clareamento do povo. A
diversidade populacional era vista como problema e o Estado decidiu atrair
europeus oferecendo vantagens como terras e isenção de impostos.
Enquanto isso, os negros foram excluídos e
estereotipados como seres desprovidos de saberes, e alijados de direitos. A
chegada dos imigrantes resultou ainda na apropriação de terras e no massacre de
povos indígenas que viviam na Região Sul. O governo de SC chegou a contratar
mercenários (os "bugreiros") para dizimar a população originária, que
foi reduzida em dois terços.
Não que a vida dos imigrantes alemães tenha
sido fácil. E com certeza a chegada deles impulsionou nosso progresso. Mas não
dá para seguir passando pano em crimes cometidos pelo Estado. A precariedade de
vida de milhões de pretos, pardos e indígenas brasileiros é consequência também
da política de imigração do século 19. E isso não dá mais para negar.
Ana Cristina essa obra prima do supremo criador...
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