Valor Econômico
Aposta agora é no uso da palavra ‘família’
Sem alarde, enquanto as atenções voltavam-se
para suas declarações sobre o equilíbrio fiscal, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva começou a testar, há poucos dias, uma nova estratégia para tentar
melhorar a interlocução com a população evangélica. Esse público representa
cerca de um terço dos brasileiros e aderiu em massa ao bolsonarismo.
“Se tem uma coisa que eu aprendi com a [minha mãe] dona Lindu foi responsabilidade fiscal, cuidar do meu pagamento, cuidar do meu salário, cuidar da minha família”, discursou Lula na sexta-feira (5), na inauguração de novo prédio da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em Osasco (SP). “E hoje a minha família é o Brasil”, exaltou.
A menção a sua mãe, Eurídice Ferreira de
Melo, a dona Lindu, é uma constante nos discursos presidenciais. Mas a
referência reiterada à figura materna, símbolo da família - e a quem Lula tem
como exemplo de resiliência e retidão moral - não o ajudou a se reconectar com
os fiéis.
A tônica desse discurso é a ênfase à palavra
“família”, que apareceu duas vezes em um mesmo trecho, com destaque para a
finalização: “Minha família é o Brasil.” Este recado, se chegar sem ruídos ao
destinatário, pode se transformar em um novo bordão presidencial. É a nova
aposta para afinar o diálogo com os evangélicos após o fracasso da campanha “fé
no Brasil”.
Dois dias antes de Lula colocar na rua esse
bordão, ele e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, haviam se reunido
com a vereadora Aava Santiago, de Goiânia (GO), no Palácio do Planalto. Depois
ela também foi recebida pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento
Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), um dos interlocutores designados
por Lula para o diálogo com os fiéis.
Embora filiada ao PSDB, Aava consolidou-se
como uma nova liderança evangélica nacional, de perfil progressista. Na
campanha de 2022, ela declarou apoio a Lula, e, depois da vitória do petista,
integrou o grupo de trabalho sobre políticas para mulheres do governo de
transição.
Recentemente, ela voltou aos holofotes após
declarações veementes, que repercutiram nas redes sociais, contra o projeto de
lei defendido pela Frente Parlamentar Evangélica que criminaliza o aborto acima
das 22 semanas, mesmo nas hipóteses previstas em lei.
Em conversa com a coluna, Aava Santiago
afirmou que o governo “continua errando” na tentativa de se aproximar dos
evangélicos. Ela acredita que políticas sociais bem sucedidas não têm
ressonância na base desse público, e argumentou com Lula, Janja e Alckmin que a
“virada de chave” deveria ser o governo falar diretamente para as famílias
brasileiras.
A avaliação de Aava - que foi criada em uma
família de pastores, e é ligada à igreja Assembleia de Deus Ministério de
Madureira - é que o campo bolsonarista apropriou-se indevidamente dos valores
familiares e cristãos, como se detivesse o monopólio da defesa desses
princípios.
De fato, o slogan que alçou Jair Bolsonaro à
Presidência em 2018 era “Deus, Pátria e Família”. Desde então, lideranças do
bolsonarismo repetem a retórica de que o PT e a esquerda em geral seriam
contrários a esses valores. “A esquerda quer liberar as drogas e destruir as
famílias e faz de tudo para calar as vozes que lhe são contrárias”, discursou
Michelle Bolsonaro no domingo (7), no megaevento conservador em Balneário
Camboriú (SC).
Embora a reação da sociedade civil tenha sido
majoritariamente contrária ao PL antiaborto, criminalizando as grávidas vítimas
de estupro, o governo recebeu críticas por não ter se posicionado abertamente
sobre o texto.
Somente dias depois, Janja foi às redes
sociais classificar o projeto como “absurdo”, “retrocesso” e cobrar do
Congresso medidas para garantir “condições e a agilidade no acesso ao aborto
legal e seguro pelo SUS".
Um dia depois da manifestação de Janja, foi a
vez de Lula pronunciar-se sobre o tema. Ele chamou a proposta de “insanidade” e
voltou a se manifestar contrário ao aborto, observando que a matéria é de saúde
pública. Para isso, voltou a invocar seus laços familiares. “Eu fui casado,
tive cinco filhos, oito netos e uma bisneta, eu sou contra o aborto”,
ressaltou.
Pesquisas recentes revelaram que após um ano
e meio de mandato, a relação da gestão Lula 3 com a população evangélica vai de
mal a pior. Levantamento do Datafolha divulgado em 18 de junho mostrou que 22%
dos brasileiros ligados a essa religião avaliam o governo como ótimo ou bom,
enquanto 44% o consideram ruim ou péssimo.
Em março de 2023, 28% achavam que a
administração petista era ótima ou boa, e para 35% era ruim ou péssima. Nesses
16 meses, entre altos e baixos, houve um acréscimo de 9 pontos percentuais no
mau humor dos fiéis com a gestão lulista.
Nessa conjunção de revezes, Aava Santiago vê
dois movimentos necessários ao governo Lula para tentar melhorar o diálogo com
os evangélicos. Em primeiro lugar, convencer essa fatia da população de que o
ex-presidente Bolsonaro e seus aliados não são paladinos dos valores familiares
e cristãos.
Um segundo desafio é estabelecer uma interlocução com pastores que votaram em Bolsonaro em 2022, mas que têm postura independente, não se prendem a lideranças nacionais (como Silas Malafaia), e estariam dispostos a ouvir. “Dialogar apenas com pastores progressistas é pregar para convertidos”, ensinou.
Lula é craque no disfarce, em mentiras, em dissimulações , em falar uma coisa e fazer outra
ResponderExcluirPor mais que use os seus truques , o povo nunca esquecerá que ele é um corrupto que foi preso e que fez muito mal ao Brasil
Famiglia Bolsonaro gosta é de dinheiro vivo. Bem vivo.
ResponderExcluir😏😏😏
Malafaia?! Sem chance,rs.
ResponderExcluir