O Globo
Cláudio Castro saiu em defesa de PMs após
abordagem truculenta em Ipanema
Aconteceu na Rua Prudente de Morais, a poucos
metros da Praia de Ipanema. Cinco adolescentes caminhavam na calçada quando uma
dupla de policiais se aproximou de armas em punho. Os três negros foram
revistados com truculência. Os dois brancos foram poupados do esculacho.
A cena resume o racismo nosso de cada dia, naturalizado por quem não costuma se ver na mira de um revólver. Por uma soma de fatores improváveis, a abordagem virou notícia. As imagens foram flagradas por câmeras de segurança. O relato da mãe de um dos meninos viralizou nas redes sociais. Os três alvos da dura eram estrangeiros e filhos de diplomatas.
Diante da repercussão negativa, o Itamaraty
chamou representantes das embaixadas de Canadá, Gabão e Burkina Faso para pedir
desculpas. Acrescentou que cobraria uma apuração rigorosa do governo do Rio.
Na terça, o governador Cláudio Castro foi
questionado sobre o caso. Em vez de reforçar as desculpas, saiu em defesa da
PM. “O pessoal ficou falando da questão de racismo, mas tinha jovens negros e
brancos”, desconversou. “É muito complicado para o policial saber se é filho de
um diplomata ou se é alguém que tá cometendo um delito.”
Castro governa um estado em que mais da
metade (58%) da população se declara preta ou parda. Caberia perguntar se ele
divide os jovens negros que circulam por Ipanema em apenas dois grupos: os
filhos de diplomatas e os suspeitos em potencial.
Na quarta, o governador voltou ao assunto.
Repetiu o discurso corporativista e acusou o Itamaraty de “avacalhar” a PM.
“Depois de achincalharem a polícia, mandaram ofício. Perderam tempo em mandar
ofício”, esbravejou, como se não tivesse que dar explicações pela má conduta da
tropa.
Imagens e relatos deixam claro que houve
racismo na abordagem policial. Ao negar os fatos e sair em defesa dos PMs,
Castro ofende as vítimas e se solidariza com os algozes.
“O trauma dos meninos não é só de um dia. Vai
permanecer, e a gente vai ter que cuidar disso”, lamentou a embaixatriz do
Gabão no Brasil, Julie-Pascale Moudo. Talvez ela não saiba, mas seu filho foi
alvo de racismo no Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial.
Racismo genuíno.
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