quinta-feira, 25 de julho de 2024

Bruno Boghossian - A'genialidade' viu a luz do dia

Folha de S. Paulo

Plano tem boa ideia, mas poderia ter evitado certos constrangimentos ao governo

No início do governo, Márcio França tentou fabricar uma notícia em seu Ministério de Portos e Aeroportos. Ele anunciou um plano para vender 15 milhões de passagens aéreas a aposentados, pensionistas, estudantes e servidores a R$ 200 por trecho. Sem modéstia, disse que seria "uma revolução na aviação brasileira".

Depois de vagar por escaninhos por 16 meses, o Voa Brasil foi lançado por outro ministro, com mais recato. O plano foi adiado um punhado de vezes, emagreceu e foi apresentado nesta quarta (24) como um projeto piloto: só para aposentados e com previsão de 3 milhões de bilhetes. Em vez de quatro passagens por pessoa a cada ano, serão duas.

Estimular a venda de assentos ociosos para quem não costuma voar não é má ideia. Sem dinheiro público, o plano facilita a busca por bilhetes que já seriam oferecidos por um preço baixo. Se tivesse sido anunciado com menos pretensão, o programa teria evitado que o governo se expusesse a certos constrangimentos.

O ministro responsável pela pasta dizia, em março de 2023, que o plano estava montado. Faltava um detalhe banal: "o governo concordar". Algum alarme soou no Planalto, pois Lula deu uma bronca em sua equipe e, sem citar França, disse que "o autor da genialidade" deveria ter combinado com o chefe antes de anunciar o programa.

O plano foi desidratado à luz do dia pelo ministro da Casa Civil. Há poucos meses, Rui Costa disse que o programa era válido, mas não deveria "criar uma falsa expectativa", pois não resolveria o problema do custo das passagens. A "revolução na aviação" acabou vendida como um programa de inclusão social direcionado a aposentados.

As negociações do plano abriram uma janela para as empresas aéreas reforçarem antigos pleitos. Pediram medidas para baratear o querosene de aviação, ampliar o acesso a empréstimos e reduzir o custo de processos judiciais. No lançamento, o novo ministro da área, Silvio Costa Filho, celebrou a abertura de uma linha de crédito para as companhias.

 

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