Folha de S. Paulo
Manter ideias radicais fora do cardápio
político é uma maneira de respaldar as instituições que fazem a contenção de
abusos
Se os franceses tivessem acordado no dia 1º
de julho convencidos de que a ultradireita representava uma alternativa normal
na política do país, a Reunião Nacional estaria hoje no poder. No segundo turno
da disputa, a maior parte daqueles atores decidiu que a turma de
Marine Le Pen não deveria governar a França.
O problema da "normalização da ultradireita" começa e termina no desejo do eleitor, mas é também uma questão de debate público e de organização política. Quando a população de um país identifica uma plataforma radical como melhor opção de governo, a escolha está feita. Ela não deixa de ser radical nem passa a ser admitida com menos resistência.
O mundo já mostrou que programas que incluem
a redução de controles democráticos ou a violação de
direitos humanos são capazes de obter apoio eleitoral
majoritário. A necessidade de compreendê-los como fenômenos de massa,
sancionados pelo voto, não deveria ser suficiente para que sejam encarados como
uma opção qualquer.
A objeção feita na arena pública costuma ser
uma tentativa de convencer o eleitor a não abandonar valores morais mínimos ou
não aceitar determinadas ideias como um mal menor. Nas elites partidárias e
institucionais, a crítica representa um gatilho para ações de coordenação
política que, em geral, têm o objetivo de isolar grupos radicais.
O erro grosseiro dos adversários da
ultradireita é que a maior parte se recusa a compreendê-la como um fenômeno de
massa. Para piorar, ainda revertem contra si aquele esforço de isolamento a
partir do momento em que entregam a seus rivais o monopólio de temas como
segurança ou imigração.
A normalização oferece à ultradireita a
possibilidade de apresentar soluções radicais como itens aceitáveis do cardápio
político, avalizados por uma demanda popular. Condenar esses programas, por
outro lado, é uma maneira de impor um custo a candidatos que os adotam e,
principalmente, dar respaldo às instituições que podem conter seus abusos.
Pode ser.
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