Valor Econômico
Distribuição de recursos do fundão revela as estratégias de cada partido nas eleições municipais
Recife, São Paulo, Vitória, Rio de Janeiro,
São Gonçalo, Contagem, Guarulhos, Fortaleza, Salvador e Feira de Santana. Na
eleição de 2020, o Partido dos Trabalhadores (PT) aplicou R$ 39,4 milhões nas
campanhas a prefeito dessas dez cidades - o equivalente a 20% do valor gasto
pelo partido (R$ 196,6 milhões) em todas as candidaturas para prefeituras e
câmaras de vereadores nos mais de cinco mil municípios brasileiros.
A taxa de aproveitamento desse investimento foi bastante baixa naquele ano. Dos dez candidatos com os maiores aportes petistas, apenas Marília Campos, de Contagem-MG, se elegeu. Marília Arraes (Recife), João Coser (Vitória), Dimas Gadelha (São Gonçalo), Elói Pietá (Guarulhos) e Zé Neto (Feira de Santana) tombaram no segundo turno; os demais (Jilmar Tatto, Benedita da Silva, Luizianne Lins e Major Denice) nem lá chegaram.
Para além da questão do sucesso ou fracasso
dessas campanhas, a concentração das despesas dos fundos partidário e eleitoral
nessas dez localidades indica a estratégia do PT no pleito municipal daquele
ano.
De antemão, revela-se uma preferência
regional, com destaque para o Sudeste e o Nordeste. A opção pelas capitais
também é clara, a ponto de o partido ter gastado somas milionárias em
tentativas com baixíssima probabilidade de sucesso (casos de Jilmar Tatto em
São Paulo ou Major Denice em Salvador), apenas para marcar terreno.
É interessante notar, ainda, o foco em São
Gonçalo, Contagem, Guarulhos e Feira de Santana - todas situadas entre as mais
populosas de seus Estados, e que receberam bem mais recursos do que a maioria
das capitais brasileiras.
O mapa da distribuição de recursos entre os
candidatos do PT nas eleições de 2020 deixa antever que sua tática eleitoral
tinha longo alcance. De modo agregado, o partido do presidente Lula concentrou
quase a metade dos recursos no Sudeste (45,3%), onde estão os três maiores
distritos eleitorais (SP, MG e RJ). Em seguida, vieram os estados nordestinos,
com pouco menos de um terço do volume (29,2%).
O PT também é um dos partidos que mais dá
prioridade às eleições majoritárias, destinando 70,8% da verba do fundão
eleitoral para as disputas à prefeitura, deixando apenas 29,2% para seus
candidatos a vereador. Além disso, concentra-se nos maiores municípios,
especialmente aqueles com mais de 200 mil habitantes, onde há possibilidade de
segundo turno (53,9%) e, portanto, a chance de se polarizar com um candidato de
direita.
Essas escolhas mostram que o PT se valeu das
eleições municipais em 2020 como parte de sua estratégia para voltar à
Presidência da República dali a dois anos. Se, por um lado, o partido foi
bem-sucedido em alcançar seu objetivo maior, por outro a eleição de uma bancada
relativamente pequena para a Câmara dos Deputados foi o preço pago por essa
opção, o que também já estava claro na distribuição dos recursos no pleito
municipal de quatro anos atrás.
Outros partidos, porém, têm em mente outras
metas. Tome-se o caso do PSD, de Gilberto Kassab. Em busca de fincar suas
raízes nos rincões do país, o partido aplicou 48,9% do total gasto em 2020 (R$
153 milhões) em municípios com menos de 50 mil habitantes, equilibrando melhor
a repartição dos recursos entre as cinco grandes regiões.
Outras legendas investem pesadamente em
preservar seus feudos locais. O PSB aplicou quase metade da verba recebida do
TSE no Nordeste (46,3%); sendo que, desses, mais da metade vai para Pernambuco,
reduto da família Campos Arraes, que comanda o partido.
Já os tucanos foram os que proporcionalmente
mais fixaram seus gastos no Sudeste (53,1%). A investida deu certo, com o
partido elegendo 173 prefeitos em São Paulo naquele ano - ganho efêmero, já que
pouco mais de vinte permanecem no partido, segundo apurou a repórter Cristiane
Agostine, para o Valor.
As eleições municipais acontecem daqui a três
meses. Com muito mais dinheiro em caixa (o fundão subiu de R$ 2 bilhões para R$
4,9 bilhões), a forma como os partidos vão gastar essa dinheirama pode definir
o rumo da política brasileira a partir de 2026.
Discordo da conclusão final do colunista: a forma como os partidos vão gastar essa dinheirama VAI definir o rumo da política brasileira a partir de 2024!
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