terça-feira, 16 de julho de 2024

Carlos Andreazza - Pachecando

O Estado de S. Paulo

Foram maquiando o bicho, perfumando a mordida. E então, de repente, pimba

Rodrigo Pacheco avisa que a PEC do Esculacho não terá tramitação acelerada no Senado. Pretende se distinguir do atropelador Arthur Lira assim, com essa miséria. (Anseio inútil, unidos eternamente pela institucionalização do orçamento secreto; sem miséria.) O texto – comunica – passará pela Comissão de Constituição e Justiça. Oh!

Também passou pela CCJ da Câmara. E daí?

O cumprimento mínimo do rito legislativo alçado a medida distintiva. Coisa de estadista. É como vamos, tal o rebaixamento das expectativas. A PEC do Esculacho doravante desfilando sem açodamento. Oh! Talvez seja o caso de agradecer.

Obrigado, Pacheco, por assegurar que uma emenda à Constituição receba os cuidados de Davi Alcolumbre antes de ir a plenário. É como vamos. Constituição e Justiça via Alcolumbre, por oposição a Lira.

Vamos aonde? A Câmara tentava votar a pouca-vergonha desde o ano passado. Até a versão afinal encaixada, foram várias as emboscadas para aplicar a indecência. Ora se vende que a redação aprovada seria produto desidratado e menos nocivo. Balela. Tirou-se o bode da sala para que a legislação em causa própria folgasse à vontade.

No que importava, nada mudou: perdoados os partidos políticos de pagar as multas derivadas de leis eleitorais que seus donos mesmos criaram. Chamam isso de anistia.

Autorizados doravante, quando de novas infrações, a pagar com dinheiro do Fundo Partidário penalidades geradas até mesmo pelo uso de caixa 2.

Afronta contra a qual não se deve perder tempo; em dois anos a se promover novo indulto, e multa por caixa 2 nenhuma será paga – nem com dinheiro público nem com qualquer outro.

Pacheco era contrário à PEC. Agora, escorado nas tais mudanças no texto, diz não querer se posicionar sobre o mérito. Estaria desinformado. O mérito não mudou. O que terá mudado? “Há um grande entusiasmo de presidentes de partidos políticos” – declarou sobre o projeto. E daí?

Há também grande entusiasmo de governadores caloteiros de Estados endividados ante a proposta de Pacheco para lhes rolar-aliviar as obrigações fiscais.

Empurrar crédito podre aos outros – a você – nunca foi problema. Questão de tempo e forma.

Questão de oportunidade e discurso. A PEC do Esculacho enfim aprovada na Câmara. Deputados influentes diziam que não bancariam o troço – mui impopular – sem que o Senado viesse junto. Refugaram algumas vezes. Foram maquiando o bicho, perfumando a mordida. E então, de repente, pimba.

Fiquemos tranquilos. Será sem atropelos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário