O Estado de S. Paulo
O Brasil continua sendo o país dos lixões. Em
2022, o setor de resíduos emitiu aproximadamente 91,3 milhões de toneladas de
dióxido de carbono equivalente (CO2e). Foi responsável por 4,0% das emissões
totais de gases de efeito estufa do território brasileiro, como mostram os
dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Cerca de
65% dessas emissões provieram dos resíduos em aterros e lixões.
Enquanto não cuidar dessa chaga, o Brasil não conseguirá cumprir as metas de descarbonização previstas, sem o que não conseguirá enveredar para a era da economia verde.
A Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente estima que, nesse mesmo 2022, 33,3 milhões de toneladas de resíduos tiveram destinação ambientalmente inadequada no Brasil. A maior parte desses resíduos (27,9 milhões de toneladas) foi despejada nos mais de 3 mil lixões a céu aberto existentes em território brasileiro.
Não são apenas grave problema ambiental.
Esses lixões são, também, um atentado à saúde pública, avaliação que dispensa
demonstrativos.
Revelam como os governantes brasileiros têm negligenciado a meta fincada pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) de acabar com esses espaços e melhorar o descarte do lixo. Estabelecida em 2010, com a promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos – que passou duas décadas em discussão no Congresso –, a meta vem sendo prorrogada desde 2014. O atual prazo, agosto de 2024, também deverá ser empurrado para adiante. Toda essa negligência, às vésperas da COP-30, que acontecerá em Belém, ocasião em que os países-membros da ONU deverão rever as metas de emissão e reforçar o compromisso de zerá-las até 2035.
Por aí já se veem a falta de compromisso e a
ineficácia dos gestores públicos em lidar com toda sorte de lixo, que
anualmente derretem bilhões de reais em descartes incorretos e em tratamentos
de doenças produzidas por essas destinações.
“É questão não resolvida, por completa
leniência e omissão. Não só por parte dos governantes – já que lixo não traz
votos. Mas também por parte do Ministério Público, que não tem exigido o
cumprimento da lei”, adverte o especialista em Meio Ambiente Elcires Pimenta.
As soluções para extinguir os lixões não são
simples nem de curto prazo. Exigem modernização na administração, como a
criação de marcos regulatórios que facilitem a regionalização a partir de
consórcios entre municípios e parcerias público-privadas. Além disso, como
aponta Pimenta, pedem investimentos em capacitação técnica, aumento dos
programas de reciclagem, estímulo à bioenergia e universalização da cobrança de
tarifas para financiar essa gestão.
Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, pede mais integração na cadeia. Como parte do material descartado não é reciclável, seu tratamento exige respostas que podem ser negociadas com a iniciativa privada.
Eu sempre penso,pra onde vai tanto lixo!
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