O Globo
O que falta é segurança, não é polícia
Ricardo
Lewandowski entrou no Ministério da Justiça com uma boa
biografia, as melhores intenções e dois planos. Um criará o Sistema Único de
Segurança, centralizando informações que estão dispersas na árvore do governo.
A ideia é boa, restando-lhe o teste da prática. O outro plano é redundante e
politicamente tóxico. Trata-se de anabolizar a Polícia Rodoviária Federal,
transformando-a numa Polícia Ostensiva Federal, ou POF.
Pretende-se mexer com uma Polícia Rodoviária
que funciona, mas tem problemas passados e presentes, berços para encrencas
futuras.
Chamada de Polícia Rodoviária do Flávio (Bolsonaro), ela foi usada na tentativa de atrapalhar os movimentos de eleitores nordestinos no segundo turno da eleição de 2022. A manobra falhou porque o ministro Alexandre de Moraes ameaçou prender seu diretor.
Silvinei
Vasques está preso desde agosto de 2023 por essa
malfeitoria y otras cositas más. Perdeu 13 quilos. Meses antes, na sua
gestão, agentes da PRF mataram um cidadão asfixiando-o no porta-malas de uma
viatura. Isso no governo Bolsonaro.
Com Lula 3.0,
a PRF tornou-se sede de uma guerra de dossiês contra seu atual diretor. Cinco
de seus superintendentes são filiados ao Partido dos Trabalhadores. Tudo o que
uma polícia não precisa é de superintendentes filiados a partidos. Esse é um
direito de qualquer cidadão, mas guerra de dossiês já é um estágio superior de
clientelismo.
A criação de uma Polícia Ostensiva Federal é
uma gritante redundância. A União já tem a Polícia
Federal, que funciona direito e não mostra os sinais de
partidarização já exibidos pela PRF. Com Lula, mandariam petistas. Coisas como
essas inibem a ação profissional, resultando em algo que o próprio PT já
percebeu: cresce o crime organizado.
Depois dos distúrbios do 8 de Janeiro, saiu
do governo a ideia de criar uma Guarda Nacional para proteger Brasília e
sabe-se lá mais o quê. A ideia foi arquivada quando chegou ao Planalto o
desconforto surgido nas corporações militares. (Em 1889 a República foi
proclamada por oficiais do Exército e vivandeiras descontentes com um
fortalecimento da Guarda Nacional.)
Um governo petista não precisa criar uma nova
polícia. Estima-se que a POF geraria 3 mil nomeações, mas pode-se esperar que
os lugares seriam preenchidos por concurso.
Até o governo de Bolsonaro, um presidente que
dizia ter “o meu Exército”, a PRF foi uma instituição exemplar. Nele, foi
mobilizada até nas tétricas mobilizações da necropolítica do Rio de Janeiro
contra comunidades pobres. Com décadas de bons serviços comprometidos e um
diretor na cadeia, a PRF não precisa expandir-se. Precisa retornar ao seu
quadrado profissional.
Foi a expansão que arruinou a imagem da PRF e
encarcerou o doutor Silvinei. Policiais amigos de ocupantes do Planalto são um
perigo. Daqui a três semanas completam-se 70 anos da ruína do governo de Getúlio
Vargas. Ele deu relevo ao chefe de sua guarda pessoal, e Gregório
Fortunato equipou-se com policiais amigos.
Nos primeiros dias de agosto de 1954, dali
saiu uma ideia: matar o jornalista Carlos Lacerda. Deu no que deu e, no dia 24,
Getúlio Vargas matou-se.
Getúlio foi vítima de seu orgulho desmedido.
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