Folha de S. Paulo
Ao retratar adversários da forma mais
negativa possível, candidatos contribuem para a polarização
La Rochefoucauld dizia que a opinião que nosso inimigo tem de nós está mais perto da verdade do que a nossa própria. Penso que a frase encerra muito de verdade, mas receio que ela colapse em situações específicas, como a de campanhas eleitorais. Aí, candidatos exageram tanto ao pintar seus adversários de forma desabonadora que acabam criando caricaturas que guardam pouca correspondência com a realidade.
É o processo em curso na corrida
eleitoral paulistana, que tem como principais contendores o prefeito Ricardo Nunes (MDB)
e o deputado federal Guilherme
Boulos (PSOL).
É perfeitamente legítimo que candidatos sejam chamados a prestar contas por
suas alianças e seu passado, mas é preciso cuidado para não recair em
hipérboles. Não é verdade que Boulos seja um perigoso radical que
transformará São Paulo em
terra sem propriedade privada, como a campanha de Nunes tenta descrevê-lo, nem
que o atual prefeito seja um bolsonarista empedernido, que conspirará contra a
democracia se reeleito, como busca retratá-lo a equipe de Boulos.
Se cabe uma crítica a Boulos, é que ele
representa o setor do PSOL que foi domesticado e colonizado pelo PT. A ascensão
dessa ala custa ao partido sua própria identidade. O PSOL, afinal, surgiu como
legenda que faria uma crítica do PT pela esquerda e que manteria padrões éticos
mais rígidos que os da sigla de Lula.
Já Nunes flerta com Bolsonaro não
porque partilhe de seu ideário e desprezo pelas instituições, mas porque
qualquer candidato a cargo majoritário que concorra na faixa do centro para a
direita precisa dos votos de bolsonaristas. Até acho que o prefeito foi além do
necessário ao aceitar um vice ditado por Bolsonaro, mas daí não se segue que
eles sejam a mesma coisa.
É correto e necessário cobrar candidatos por
alianças e posições e atitudes do passado, mas exagerar na dose é algo que
contribui para a polarização sem acrescentar tantos votos.
Pode ser.
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