Folha de S. Paulo
Brasil é impotente perante a fraude de
Maduro, mas pode aprender a lição
A esperança é mesmo um veneno. Poucas horas
depois de Nicolás
Maduro se declarar vencedor de uma eleição roubada do início ao fim,
sem nem se dar ao trabalho de publicar as atas eleitorais, já me pego torcendo
para que os protestos contra seu regime que pipocam por todo o país cresçam e
finalmente o destronem.
Levantes populares massivos podem forçar a renúncia do ditador? Podem. Mas, como ele tem o apoio das Forças Armadas, conta com milícias armadas paramilitares e já mostrou no passado que não tem o menor problema em matar centenas de manifestantes, não parece um desfecho provável. É apenas a esperança completamente irracional que insiste em manter viva sua pequena chama.
O Brasil bem que tentou ajudar na transição
para a democracia. Fomos testemunha do Acordo de Barbados, em que Maduro e
opositores se comprometeram a ter eleições presidenciais limpas, transparentes
e justas em 2024. Esse acordo foi rasgado e jogado no lixo pelo ditador. De
nossa parte, a participação cobra um preço: o governo brasileiro
tem o dever de se pronunciar.
A urna venezuelana, assim como a nossa,
imprime boletins de urna. Esses estão sendo sonegados pelo governo. Quanto mais
tempo passa, maior a chance de surgirem boletins falsificados. Além dos
boletins, as urnas venezuelanas também imprimem votos. Sua recontagem pública
deve ser exigida pela oposição. Cabe ao Brasil se juntar a esse coro.
Nossa diplomacia pode e deve ser cautelosa e
cobrar as atas eleitorais e demais provas antes de emitir seu veredito. Mas
quando elas finalmente chegarem —ou, o que é mais provável, quando ficar claro
que elas não chegarão—, será preciso fazer uma escolha: respaldar a farsa que
vimos se desenrolar na Venezuela ou
apontá-la com clareza.
O que não significa que o
Acordo de Barbados tenha sido um erro. Era um possível caminho para a
redemocratização. No passado, tentamos a estratégia oposta: o endurecimento e
corte nas relações. O governo Bolsonaro chegou a reconhecer Juan Guaidó como
presidente legítimo. Lá atrás, não havia como saber se daria certo. Foi um
fracasso. Assim como foi um fracasso a tentativa de influenciar o regime por
meio da diplomacia amigável.
Neste momento, mesmo os governos de esquerda
não ditatoriais da América cobram transparência da Venezuela: Brasil, México,
Chile; todos na mesma toada. Realisticamente, não deve importar muito. Maduro
já se prontificou e expulsou os diplomatas de sete países que teceram críticas
ao pleito.
A moral da história é que temos muito pouca
influência sobre a política de nosso vizinho. Não resta muito a fazer. Sanções
já se revelaram um erro. As sanções econômicas impostas pelos EUA aprofundaram
a crise social e em nada enfraqueceram o regime. Pelo contrário, seu controle
sobre a sociedade se fortaleceu. A sanção cai como uma luva no discurso
populista, segundo o qual todos que se opõem ao governo são traidores da nação;
e passam a ser lacaios dos inimigos externos.
É do nosso interesse manter comunicação
aberta com o regime Maduro tendo em vista diversos objetivos: compra de
energia, recebimento de dívidas antigas, questões da fronteira etc. Fora disso,
qualquer ambição de ajudar na mudança de um regime que já prendeu centenas,
matou milhares e presidiu sobre uma brutal catástrofe humanitária só nos
desmoraliza. No momento, podemos apenas torcer pelos manifestantes —sabendo
perfeitamente que Maduro não estava brincando quando falou em "banho de
sangue". Mantenho viva a tola esperança de que a democracia ainda pode
triunfar, bem como a convicção de que todos os que apoiam esse regime ou buscam
emular seus atos deveriam ser banidos da vida pública brasileira.
“Todos que apoiam esse regime ou Emular Seus atos deveriam ser banidos da vida pública brasileira”
ResponderExcluirConcordo plenamente com o jornalista e já de antemão teria que ser banido todo o partido PT porque a sua presidente manifestou todo o apoio ao processo eleitoral e a vitória do maduro como sempre fizeram, de mão dadas com o presidente venezuelano
" O Partido dos Trabalhadores (PT) reconheceu a vitória de Nicolás Maduro na eleição presidencial na Venezuela. Em nota divulgada na noite de segunda-feira 29, a Executiva Nacional do partido disse que a eleição realizada no último domingo 28 foi “democrática e soberana”. "
ResponderExcluir( Carta Capital )
😏😏😏
Exatamente!
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