sexta-feira, 5 de julho de 2024

Joseph Stiglitz - Não há dúvida sobre o melhor para os EUA

Valor Econômico

Embora economistas tenham enfatizado a importância do Estado de Direito para o crescimento, Trump, um criminoso condenado, não é exatamente conhecido por sua adesão a ele

Algo ficou faltando na enxurrada de comentários após o debate entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e Donald Trump. Embora as avaliações dos eleitores sobre a personalidade e forças pessoais dos candidatos sejam importantes, todos deveriam lembrar-se do famoso ditado: “É a economia, estúpido”. No mar de mentiras descaradas despejadas por Trump durante o debate, as falsidades mais perigosas referiram-se aos respectivos históricos de política econômica dele e de Biden.

Avaliar a gestão da economia por parte de um presidente é sempre uma tarefa espinhosa, porque muitos dos desenvolvimentos são desencadeados pelos antecessores. Barack Obama precisou lidar com uma profunda recessão porque governos anteriores se empenharam na desregulamentação financeira e não conseguiram evitar a crise que eclodiu no outono americano de 2008. Depois, com os republicanos do Congresso amarrando as mãos do governo Obama e defendendo um aperto de cinto, o país foi privado dos tipos de políticas fiscais que poderiam ter tirado a economia da Grande Recessão com mais rapidez. Quando a economia, enfim, estava em recuperação, Obama estava saindo e Trump, entrando.

Trump não hesitou em reivindicar o crédito pelo crescimento que veio a seguir. No entanto, embora ele e os republicanos do Congresso tenham reduzido impostos de empresas e de bilionários, a prometida onda de investimentos nunca se materializou. Em vez disso, houve uma onda de recompra de ações, que ruma para superar o US$ 1 trilhão em 2025.

Embora Trump não possa ser culpado pela covid-19, ele certamente tem responsabilidade pelas respostas inadequadas, que deixaram os Estados Unidos com um número de mortos muito superior ao de outras economias avançadas. Embora o vírus tenha cobrado vítimas desproporcionalmente entre os idosos, também afetou a força de trabalho, e essas perdas influenciaram, em parte, a escassez de mão de obra e a inflação herdadas por Biden.

Por sua vez, o histórico econômico de Biden tem sido impressionante. Logo após assumir o cargo, ele conseguiu a aprovação do Plano Americano de Resgate, que permitiu ao país se recuperar da pandemia com mais força do que qualquer outro país avançado. Depois, veio a Lei de Infraestrutura Bipartidária, que forneceu financiamento, após meio século de negligência, para que elementos cruciais da economia dos EUA começassem a ser consertados.

No ano seguinte, Biden assinou a Lei da Ciência e Chips de 2022, que lançou uma nova era de políticas industriais que garantirão a resiliência e a competitividade da economia no futuro (uma grande ruptura em relação à fragilidade que marcou a era neoliberal anterior). E com a Lei de Redução da Inflação de 2022, os EUA enfim se juntaram à comunidade internacional no investimento em tecnologias do futuro e na luta contra as mudanças climáticas.

Além de fornecer um seguro econômico contra a possibilidade de um vírus persistente e em constante evolução, o Plano Americano de Resgate, em apenas um ano, reduziu o índice de pobreza infantil quase pela metade. No entanto, também foi apontado como culpado (inclusive por alguns democratas) pela inflação subsequente.

Essa acusação simplesmente não se sustenta. Não houve demanda agregada excessiva do Plano Americano de Resgate, pelo menos não de uma magnitude capaz de explicar o nível de inflação. A maior parte da culpa recai sobre as interrupções do lado da oferta e as mudanças na demanda induzidas pela pandemia e pela guerra. Na medida em que Biden pôde combater isso, ele o fez: usou a Reserva Estratégica de Petróleo para lidar com a escassez de petróleo e trabalhou para aliviar os gargalos nos portos dos EUA.

Ainda mais relevante para esta eleição, é o que nos aguarda no futuro. Modelos econômicos cuidadosos mostraram que as propostas de Trump causariam maior inflação - apesar do crescimento menor -e maior desigualdade.

Para começar, Trump elevaria as tarifas, e os custos seriam em sua maioria repassados aos consumidores dos EUA. Ao contrário do que diz a economia básica, Trump presume que, para compensar as tarifas, a China simplesmente reduziria os preços que cobra. Se isso acontecesse, contudo, nenhum emprego americano seria salvo (a coerência nunca foi uma das forças de Trump).

O que é ainda mais relevante para esta eleição é o que nos aguarda no futuro. Modelos econômicos cuidadosos mostraram que as propostas de Donald Trump causariam maior inflação, apesar do crescimento menor, e maior desigualdade

Além disso, Trump restringiria a imigração, o que deixaria o mercado de trabalho mais tensionado e agravaria o risco de falta de mão de obra em alguns setores. E ele aumentaria o déficit, cujos efeitos poderiam preocupar o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) e induzi-lo a elevar os juros, diminuindo assim os investimentos em habitação e elevando ainda mais os aluguéis e os custos habitacionais (uma das principais fontes da inflação atual). Além de desacelerar o crescimento ao diminuir os investimentos, juros mais altos também valorizariam a taxa de câmbio, tornando as exportações dos EUA menos competitivas. Ademais, as exportações dos EUA sofreriam com o aumento de custo dos insumos, em razão das tarifas mais altas e das retaliações que elas provocariam.

Já sabemos que os cortes do imposto de pessoa jurídica em 2017 não estimularam muitos investimentos e que a maior parte dos benefícios foi para os muito ricos e para estrangeiros (donos de grandes participações em empresas dos EUA). Os cortes de impostos adicionais que Trump está prometendo provavelmente não trarão um resultado melhor, mas quase certamente elevarão os déficits e a desigualdade.

É claro, é bem complexo calcular esses efeitos por meio de modelos econômicos. Não está claro com que rapidez e intensidade o Fed reagiria à inflação induzida pelas tarifas, mas seus economistas obviamente veriam o problema chegando. Será que se sentiriam tentados a resolvê-lo na raiz, elevando os juros precocemente? Será que, então, Trump violaria as normas institucionais tentando demitir o presidente do Fed? Como os mercados (aqui e no exterior) responderiam a essa nova era de incerteza e caos?

O prognóstico de longo prazo é mais claro - e pior. Os EUA devem grande parte de seu sucesso econômico nos últimos anos à capacidade tecnológica, que depende de fundamentos científicos sólidos. No entanto, Trump continuaria a atacar nossas universidades e a exigir cortes maciços nos gastos em pesquisa e desenvolvimento. A única razão pela qual esses cortes não foram feitos durante seu mandato anterior é que ele não tinha seu partido completamente alinhado atrás de si. Agora, tem.

Da forma similar, embora a população dos EUA esteja ficando, em média, mais velha, Trump permitiria um encolhimento da força de trabalho ao restringir a imigração. E, embora economistas tenham enfatizado a importância do Estado de Direito para o crescimento econômico, Trump, um criminoso condenado, não é exatamente conhecido por sua adesão a ele.

Portanto, quanto à questão de quem seria melhor para a economia - Trump ou Biden (ou qualquer democrata que possa vir a substituí-lo, caso ele desista) - simplesmente não há discussão. (Tradução de Sabino Ahumada)

2 comentários:

  1. Anônimo5/7/24 09:20

    Impressiona a veemência com que jornalistas apontam a condenação do Trump como algo impeditivo pra sua candidato política e moralmente , no entanto fingem que não vê que estamos sendo presidido por um cidadão que foi julgado e condenado por três instâncias e por nove juízes há mais de 20 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro isso parece que foi apagado da mente das dessas pessoas , pura hipocrisia o Biden hoje está senil alguém deve estar governando junto a ele , os poderosos da nova ordem estão com medo porque sabem que ele não tem a menor condição de disputar uma campanha com o Trump
    A onda da direita varreu a Europa está chegando aos Estados Unidos e se Deus quiser chegará aqui para tirar a esquerda incompetente autoritária que impuseram ditaduras para controlar a sociedade e a política

    ResponderExcluir
  2. Disse o golpista, apoiado por mentirosos contumazes, negacionistas, pastores pilantras picaretas, bandidos e políticos praticantes das mais diversas falcatruas e negociatas. Todos pilantras.

    A famiglia Bolsonaro é outra quadrilha, só que com verniz moralista que fede a bolor e excrescências.

    Como dizem, para cada malandro a aplicar golpes, sempre haverá um otário a cair em suas redes.

    😏😏😏

    ResponderExcluir