O Estado de S. Paulo
Sistema de compliance do Brasil pode não resistir à tentação da corrupção nos contratos da China
O Brasil está prestes a aderir à Nova Rota da
Seda (BRI), o trilionário programa de obras de Xi Jinping destinado a
consolidar a dominância da China. Com 150 participantes, e forte engajamento de
ditaduras africanas e asiáticas, o esquema é uma porta para corrupção e
inadimplência, dada a falta de transparência, juros altos e hipoteca das obras
para o credor chinês.
Nos últimos dez dias, Lula mencionou duas vezes a possibilidade. “Quero discutir com a China a Rota da Seda”, disse à agência chinesa Xinhua. Lula aceitou o primeiro convite a um presidente brasileiro para a cúpula do Fórum Econômico da Ásia e do Pacífico (Apec), em novembro, no Peru, com a participação de Xi, e também o receberá no Brasil “com uma grande festa”. “Quero saber aonde é que a gente entra, que posição vamos jogar, porque não queremos ser reserva, queremos ser titular”, entusiasmou-se.
Boa sorte com isso. Lula sabe como é
transacionar com os chineses, quando interesses geopolíticos estão em jogo. Na
cúpula dos Brics, em 2023, a China enfiou goela abaixo do Brasil o convite para
Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito e Etiópia ingressarem no bloco.
Lula queria a entrada apenas da Argentina, na esperança de turbinar a campanha
de Sergio Massa à presidência.
O Brics virou um clube de ditaduras, cujos
conflitos regionais a China passou a arbitrar. Enquanto a Índia caminha para
uma autocracia sob o nacionalismo hinduísta de Narendra Modi, Brasil e África
do Sul se tornam minoria no bloco e se subjugaram à estratégia chinesa de
liderar a disputa global entre autocracias e democracias.
A declaração de Lula repercutiu na China. O jornal Global Times e a porta-voz do ministério, Mao Ning, elogiaram o brasileiro. “Tenho informes relevantes”, respondeu Mao. “China e Brasil são parceiros estratégicos. O Brasil é o país do futebol. A China dá as boas-vindas para o Brasil se juntar à família da BRI e está ansiosa pelo golaço mundial do Brasil nessa cooperação.”
DÚVIDAS. “O Brasil já é o maior destino de
investimentos estrangeiros diretos da China na região”, disse Filipe Porto,
acadêmico da UFABC e editor do Grupo de Comunicações Internacionais da China.
“Entrar para quê?”
Lula tem histórico de concessões à China sem
contrapartidas reais. Em 2004, tornou o Brasil o primeiro país grande a
reconhecer o status de economia de mercado da China, retirando da indústria
brasileira espaço para ações antidumping contra os chineses. Eu estava em
Pequim. Presenciei o deslumbramento dos petistas e o assombro dos empresários.
No ano passado, assinou o memorando sobre o
grupo de trabalho de facilitação da adesão à BRI. O que mais me preocupa é a
opacidade do programa chinês. O sistema de compliance e governança do Brasil
resistirá às oportunidades de corrupção nesses contratos?
Depois, quando falo que o Brasil se tornou uma colônia chinesa, tiram sarrinho.
ResponderExcluirOkyas
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