domingo, 28 de julho de 2024

Lourival Sant’Anna - Um gol contra de Lula

O Estado de S. Paulo

Sistema de compliance do Brasil pode não resistir à tentação da corrupção nos contratos da China

O Brasil está prestes a aderir à Nova Rota da Seda (BRI), o trilionário programa de obras de Xi Jinping destinado a consolidar a dominância da China. Com 150 participantes, e forte engajamento de ditaduras africanas e asiáticas, o esquema é uma porta para corrupção e inadimplência, dada a falta de transparência, juros altos e hipoteca das obras para o credor chinês.

Nos últimos dez dias, Lula mencionou duas vezes a possibilidade. “Quero discutir com a China a Rota da Seda”, disse à agência chinesa Xinhua. Lula aceitou o primeiro convite a um presidente brasileiro para a cúpula do Fórum Econômico da Ásia e do Pacífico (Apec), em novembro, no Peru, com a participação de Xi, e também o receberá no Brasil “com uma grande festa”. “Quero saber aonde é que a gente entra, que posição vamos jogar, porque não queremos ser reserva, queremos ser titular”, entusiasmou-se.

Boa sorte com isso. Lula sabe como é transacionar com os chineses, quando interesses geopolíticos estão em jogo. Na cúpula dos Brics, em 2023, a China enfiou goela abaixo do Brasil o convite para Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito e Etiópia ingressarem no bloco. Lula queria a entrada apenas da Argentina, na esperança de turbinar a campanha de Sergio Massa à presidência.

O Brics virou um clube de ditaduras, cujos conflitos regionais a China passou a arbitrar. Enquanto a Índia caminha para uma autocracia sob o nacionalismo hinduísta de Narendra Modi, Brasil e África do Sul se tornam minoria no bloco e se subjugaram à estratégia chinesa de liderar a disputa global entre autocracias e democracias.

A declaração de Lula repercutiu na China. O jornal Global Times e a porta-voz do ministério, Mao Ning, elogiaram o brasileiro. “Tenho informes relevantes”, respondeu Mao. “China e Brasil são parceiros estratégicos. O Brasil é o país do futebol. A China dá as boas-vindas para o Brasil se juntar à família da BRI e está ansiosa pelo golaço mundial do Brasil nessa cooperação.”

DÚVIDAS. “O Brasil já é o maior destino de investimentos estrangeiros diretos da China na região”, disse Filipe Porto, acadêmico da UFABC e editor do Grupo de Comunicações Internacionais da China. “Entrar para quê?”

Lula tem histórico de concessões à China sem contrapartidas reais. Em 2004, tornou o Brasil o primeiro país grande a reconhecer o status de economia de mercado da China, retirando da indústria brasileira espaço para ações antidumping contra os chineses. Eu estava em Pequim. Presenciei o deslumbramento dos petistas e o assombro dos empresários.

No ano passado, assinou o memorando sobre o grupo de trabalho de facilitação da adesão à BRI. O que mais me preocupa é a opacidade do programa chinês. O sistema de compliance e governança do Brasil resistirá às oportunidades de corrupção nesses contratos?

 

Um comentário:

  1. Depois, quando falo que o Brasil se tornou uma colônia chinesa, tiram sarrinho.

    Okyas

    😏😏😏

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