Folha de S. Paulo
Capangas de Donald Trump escolheram a nova
Geni e começaram a apedrejar vice-presidente
A intensidade dos
ataques misóginos e racistas contra Kamala Harris surpreende
até os pessimistas observadores da política americana. A eleição, até há dias
definida pela
idade avançada de dois homens brancos, virou a disputa de um idoso
declarado culpado
de estuprar uma jornalista contra a filha de um economista jamaicano e
de uma cientista indiana que, à
época em que foi promotora, colocou vários patifes como Trump na
cadeia.
Sem noção de vergonha, sentimento hoje extinto entre a ultradireita, os capangas de Donald Trump e seus simpatizantes da mídia escolheram a nova Geni e começaram a apedrejar a vice-presidente com insultos de cunho sexual e étnico.
Ela teria dormido com poderosos para chegar
ao topo (mentira: Harris namorou publicamente o ex-prefeito de San Francisco
quando ele já estava divorciado da mulher); a advogada, duas vezes vencedora da
difícil eleição para procuradora-geral do
estado quase nação da Califórnia que, em seguida, elegeu-se senadora,
teria virado vice de Joe Biden como
uma empregada DEI (acrônimo para diversidade, equidade e inclusão); a nativa
californiana não poderia se eleger presidente porque seus pais nasceram no
exterior (a Constituição garante: qualquer pessoa nascida nos EUA pode se
candidatar). Repetir o
"birtherismo" que tentaram com Obama, nascido no Havaí,
parece desespero.
A hostilidade havia começado já na campanha
Biden-Harris de 2020, e o vice da chapa de Trump deixou uma trilha de migalhas
de pão digitais para provar.
Como J.D.
Vance é o candidato a vice mais impopular desde 1980, é possível que
ele tire mais jovens e minorias de casa para votar contra republicanos
arrotando chocalhos raciais como acusar a democrata de "não sentir
gratidão" por viver nos Estados
Unidos. Um eleitor negro ouve esse comentário e arrasta até a avó de 90
anos para as urnas.
Como o destrambelhado Trump sofre de
incontinência verbal e seu vice é um consumado lambe-botas, ambos não param de
facilitar novos comerciais da campanha democrata. Nesta semana, Trump anunciou
triunfal num comício que "Kamala não será a primeira mulher
presidente". Ele erra a pronúncia —Kâmala— e se refere a ela como Kamála
para humilhá-la pela origem imigrante. E ainda arrematou, "não vamos ter
uma presidente socialista, especialmente se for mulher".
Um vídeo ridículo de J.D. Vance voltou a
circular, no qual ele diz que a nova geração democrata, mencionando
nominalmente Harris, a
deputada latina Alexandria Ocasio-Cortez e o
secretário de Transportes gay Pete Buttigieg, não passa de um bando de
estéreis criadoras (no feminino) de gatos.
Harris tem dois enteados com o marido Doug
Emhoff, Buttigieg adotou gêmeos e Ocasio-Cortez está noiva.
O fato é que 2024 não é 2016, quando Hillary
Clinton enfrentou uma artilharia de misoginia escatológica como
nenhuma outra política de projeção nacional nos EUA. Foi a campanha do
áudio em que Trump se vangloriou de agarrar as mulheres pela vagina. Nestes
oito anos, as mulheres americanas se organizaram melhor, disputaram e venceram
mais eleições e estão em pé de guerra contra a volta da criminalização do
aborto, cortesia da jurássica Suprema Corte.
Kamala Harris espera a baixaria que virá nos
próximos cem dias. Mas uma filha de imigrantes, escoltada ainda criança para a
escola no fim da segregação racial, não vira promotora se fica facilmente
intimidada.
Verdade.
ResponderExcluirhttps://theconversation.com/donald-trump-e-a-escuridao-crescente-que-ameaca-a-politica-dos-eua-234854
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