O Estado de S. Paulo
É difícil entender a posição do PT no que diz
respeito às eleições venezuelanas e ao regime de Nicolás Maduro.
A fraude está escancarada, com as previsíveis
manobras autoritárias e intransparentes, a arrogância fora-da-lei dos que se
proclamam vencedores, os protestos internacionais das democracias ocidentais e
de vários governos da América do Sul.
O regime venezuelano é uma ditadura, simples
assim. Ele abusa de simulacros democráticos, de uma retórica
"revolucionária" e de uma coreografia de apoio popular que não existe
de fato. Enquanto isso, milhões de venezuelanos caem na miséria, outros tantos
fogem do país, a economia naufraga, o país se converte em pária internacional.
O roteiro é o mesmo de todas as ditaduras: manipulam-se as eleições e formam-se tribunais eleitorais fiéis, abrindo caminho para que os governantes se eternizem no poder. Putin é uma referência, assim como Orbán na Hungria. É o chamado "iliberalismo" em ação, misturado com formas reacionárias de populismo.
A Venezuela é isso, desde que o chavismo
instituiu suas regras, suas milícias e seus "coletivos". Trata-se de
um regime forte e abertamente autoritário, que se beneficia de uma longa
permanência no poder, alimentado por atitudes repressivas e controle sobre a
população. Por tal motivo, ele empurra as oposições para a margem, vedando-lhe
o acesso ao poder e coagindo-a mediante uma institucionalidade feita sob
medida.
A esquerda que não reconhece isso falha como
esquerda.
Mesmo o governo Lula age com cuidado e
posterga o reconhecimento da autoproclamada vitória de Maduro. Exige, ao menos
pela voz da diplomacia, que sejam apresentados os boletins eleitorais. Não se
sabe até quando o governo manterá essa posição, dados os apoios anteriores ao
regime chavista, os alinhamentos internacionais de Lula e as pressões petistas.
Apesar de tudo isso, o PT se manifesta
dizendo que a vitória de Maduro resultou de uma "jornada pacífica,
democrática e soberana". E pede que "o presidente Nicolás Maduro,
agora reeleito, continue o diálogo com a oposição", diálogo que, a rigor,
nunca aconteceu de fato. A direção nacional do partido age como se a Venezuela
fosse um bastião progressista e peça-chave na contestação do
"neoliberalismo" norte-americano e ocidental. É um erro tático e
estratégico com muitas camadas de alienação.
A posição não faz jus a uma ideia renovada de
esquerda. É muito mais a manifestação de uma visão regressista e alheia ao que
ocorre no mundo atual. Apoios a ditaduras "revolucionárias" são um
contrassenso, um bloco de chumbo que aprisiona a esquerda em grutas escuras,
das quais não se vislumbra qualquer futuro.
Alinhamentos automáticos a parceiros ideológicos são, além do mais, uma estupidez política, que ignora a vida vivida, tudo aquilo que oprime as populações governadas por tiranos e sem acesso a direitos básicos, a liberdades fundamentais, a embates democráticos.
Excelente! O PT envergonha a Esquerda novamente. E Lula suja ainda mais sua biografia.
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