quarta-feira, 31 de julho de 2024

Marco Aurélio Nogueira - Vão fechar os olhos para as fraudes de Maduro, PT se desqualifica

O Estado de S. Paulo

É difícil entender a posição do PT no que diz respeito às eleições venezuelanas e ao regime de Nicolás Maduro.

A fraude está escancarada, com as previsíveis manobras autoritárias e intransparentes, a arrogância fora-da-lei dos que se proclamam vencedores, os protestos internacionais das democracias ocidentais e de vários governos da América do Sul.

O regime venezuelano é uma ditadura, simples assim. Ele abusa de simulacros democráticos, de uma retórica "revolucionária" e de uma coreografia de apoio popular que não existe de fato. Enquanto isso, milhões de venezuelanos caem na miséria, outros tantos fogem do país, a economia naufraga, o país se converte em pária internacional.

O roteiro é o mesmo de todas as ditaduras: manipulam-se as eleições e formam-se tribunais eleitorais fiéis, abrindo caminho para que os governantes se eternizem no poder. Putin é uma referência, assim como Orbán na Hungria. É o chamado "iliberalismo" em ação, misturado com formas reacionárias de populismo.

A Venezuela é isso, desde que o chavismo instituiu suas regras, suas milícias e seus "coletivos". Trata-se de um regime forte e abertamente autoritário, que se beneficia de uma longa permanência no poder, alimentado por atitudes repressivas e controle sobre a população. Por tal motivo, ele empurra as oposições para a margem, vedando-lhe o acesso ao poder e coagindo-a mediante uma institucionalidade feita sob medida.

A esquerda que não reconhece isso falha como esquerda.

Mesmo o governo Lula age com cuidado e posterga o reconhecimento da autoproclamada vitória de Maduro. Exige, ao menos pela voz da diplomacia, que sejam apresentados os boletins eleitorais. Não se sabe até quando o governo manterá essa posição, dados os apoios anteriores ao regime chavista, os alinhamentos internacionais de Lula e as pressões petistas.

Apesar de tudo isso, o PT se manifesta dizendo que a vitória de Maduro resultou de uma "jornada pacífica, democrática e soberana". E pede que "o presidente Nicolás Maduro, agora reeleito, continue o diálogo com a oposição", diálogo que, a rigor, nunca aconteceu de fato. A direção nacional do partido age como se a Venezuela fosse um bastião progressista e peça-chave na contestação do "neoliberalismo" norte-americano e ocidental. É um erro tático e estratégico com muitas camadas de alienação.

A posição não faz jus a uma ideia renovada de esquerda. É muito mais a manifestação de uma visão regressista e alheia ao que ocorre no mundo atual. Apoios a ditaduras "revolucionárias" são um contrassenso, um bloco de chumbo que aprisiona a esquerda em grutas escuras, das quais não se vislumbra qualquer futuro.

Alinhamentos automáticos a parceiros ideológicos são, além do mais, uma estupidez política, que ignora a vida vivida, tudo aquilo que oprime as populações governadas por tiranos e sem acesso a direitos básicos, a liberdades fundamentais, a embates democráticos.

Um comentário:

  1. Anônimo1/8/24 17:44

    Excelente! O PT envergonha a Esquerda novamente. E Lula suja ainda mais sua biografia.

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