Voto Positivo
Em todo o mundo, as extremas-direitas que na
geografia política estão no seu extremo, radicais, duras, sem alternativas
factíveis, em tudo distantes dos inúmeros ramos clássicos da direita que perfaz
conservadores, liberais, conservador-liberal, liberal-conservador, entre tantas
desenhos possíveis que os englobam, são um fenômeno emotivo tanto aliciante
para uma minoria e repulsiva para o Grande Número.
Eles desenvolvem a maior desconfiança dos filiados da direita clássica. Eles irritam além dessas Direitas, os Centros e as Esquerdas. Recentemente essa rejeição pelo Centro se deu em França como declarou o antigo primeiro-ministro do Centro de Macron, Édouard Philippe: “É necessário bloquear o "Reunião Nacional" (Rassemblement National, partido de extrema-direita). E no domingo (no último dia 7) do segundo turno votou num candidato de esquerda.
Apesar desta rejeição universal, a
extrema-direita permanece. O que os caracteriza?
Primeiro, a crítica ao liberalismo político,
inseparável da democracia pluralista. Em vez disso, aspiram a uma ordem
política autoritária eleita, capaz de mobilizar as capacidades coercivas do
Estado para manter a sociedade sob controle e disciplinada. Por isso se percebe
que cultivam uma ideologia antiliberal a despeito de alguns deles se alegarem
liberista e admirarem ditos líderes fortes.
Em segundo lugar, um foco intenso nas
questões de segurança numa chave do século XVIII leitora de Hobbes, partindo do
pressuposto de que vivemos num estado de exceção permanente, sitiados num
ambiente de ameaças e riscos. Tal como no poema de 1904 de Konstantínos Kaváfis
existimos sob a advertência de que os bárbaros chegarão hoje.
Terceiro, a vontade contínua de travar uma
guerra ideológica e rodear-se de paliçadas morais. Com isto, colocaram os
setores da direita clássica como Sparrings, fazendo-os parecer
indiferentes e/ou pouco dispostos a defender fronteiras simbólicas e
imaginárias à revelia das físicas e constitucionais. Ao mesmo tempo,
transformam os Centros e as Esquerdas – por vezes como cúmplices – de um
conglomerado de reivindicações tais como dos identitários, antinacionais,
anticostumes e inimigas do bom senso.
É assim que a extrema-direita surge na cena
global em toda a sua variedade: autoritária, contrária aos limites e
equilíbrios da democracia liberal, com uma mentalidade de manada sitiada,
disposta a reunir os ressentimentos da sociedade numa cruzada cultural contra
os Centros que seriam Fracos e as ditas Esquerdas Woke.
Há espaço para tudo, desde o chamado
anarcocapitalismo de Milei até ao capitalismo de compadrio de Putin; das
ideologias eurocéticas as ultranacionalistas; desde aqueles “nostálgicos do
fascismo”, como parcela dos Irmãos de Itália (Fratelli d'Italia), os
cúmplices da ditadura de Pinochet; do “Deus acima de tudo”, pátria e família de
Bolsonaro ao “a guerra foi vencida no nível espiritual” do elsalvadorenho
Bukele; desde a acusação contra a direita clássica de ser uma “direita covarde
e fraudadora”, como disse o chefe do Vox na Espanha, e até o José Antonio Kast
que negou que o Chile nos governos do recém-falecido Sebastián Piñera era
governos de direita.
Pois bem. Após termos acompanhado a Convenção
do Partido Republicano em Milwaukee nos últimos dias é inequívoco dizer que
houve nele a ascensão avassaladora de uma visão, de valores e de um projeto de
restauração conservadora; de um nacionalismo cristão a favor de uma guerra
ideológica contra tudo o que não é “norteamericano”. E inimigo do estrangeiro,
diverso, híbrido. Ao mesmo tempo, um populismo surpreendente – vindo de um
partido tradicionalmente plutocrático. A guerra ideológica da extrema-direita estava
lá.
Daí que nós defensores e defensoras
da democracia, liberdade e igualdade seguiremos a encorajar sempre a
tolerância e a doçura emanadas da flor de lótus e as nossas tendências
confessas a favor da paz.
Xô, Voto Positivo!
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