Folha de S. Paulo
A exemplo de Berlim, o tempo dirá se o preço
de banana compensou ou já nasceu estragado
Com direito a chuva de papel, sorriso estampado e campainha, Tarcísio de Freitas selou a privatização da água dos paulistas, entregando a superavitária Sabesp nas mãos da única empresa que se pôs interessada em atuar como acionista de referência; que ofereceu um valor 20% inferior ao preço do papel atual da companhia; cuja única experiência no setor do saneamento básico é o Amapá e seus 82 mil clientes; e, onde atua mais, no setor de distribuição de energia, foi a pior avaliada entre 29 grandes concessionárias distribuidoras de energia em 2023.
Privatização pode ser questionada em geral ou
por seus próprios fundamentos. A começar pelo primeiro ponto, não é necessário
ser contra a privatização em todas as circunstâncias para que se avalie que
privatizar bens básicos para sobrevivência, como a água, pode induzir uma
lógica de mercado para um setor que provê um direito elementar.
Isso não quer dizer que não se possa gerir o
setor com
eficiência, apenas que esta não se resume a quem paga mais (no caso,
a quem paga). Faltou avisar ao governador de São Paulo que
água não é mercadoria, mas um direito humano.
Por seus próprios fundamentos, a privatização
também pode ser questionada. Se a ideia da venda era arrecadar recursos para
uma empresa em queda, não foi o que houve. Enquanto a Sabesp reportou um lucro líquido
de R$ 3,5 bilhões somente em 2023, o governo paulista levantou
R$ 14,77 bilhões com a privatização. Se a ideia da privatização era universalizar
o serviço até 2029, faltam estudos técnicos que provem que esse
prazo é factível, considerando a já ampla cobertura da rede de água e esgoto em
São Paulo.
A maioria
(53%) dos moradores do estado de São Paulo é formada por
pessoas que se posicionam contra a transferência da Sabesp para a iniciativa
privada, e não foram ouvidos no processo de privatização a toque de
caixa. A exemplo de
Berlim, que reestatizou o saneamento, o tempo dirá se o preço de
banana compensou ou já nasceu estragado.
O carioca que governa SP promoveu sua maior sacanagem até o momento. Mas os problemas não aparecerão imediatamente, como bem argumenta o colunista. O 1% de desconto concedido aos clientes "pessoa física" e 0,5% de desconto pras empresas vão engambelar alguns até o ano que vem, mas o negócio vai se mostrar péssimo pro Estado e pros seus moradores. A empresa não tem qualquer tradição no setor, e o governo foi totalmente DESCUIDADO na conclusão do processo.
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