O Globo
Para o Planalto, se a economia ‘chegar bem’, o presidente é favorito, e possibilidade de Bolsonaro rever sua inabilitação também é considerada nula
Conforme antecipei em meu blog no GLOBO, o
governo Lula entende que a fase de reformas deste terceiro mandato se esgotou.
No cômputo do que foi feito, além da reforma tributária, entra o novo arcabouço
fiscal. No do que deixará de ser enfrentado, a ideia de revisitar as regras
previdenciárias e uma batalha para reformar o Orçamento.
Segundo auxiliares de Lula, o caminho que o presidente vislumbra até 2026 tem como carro-chefe o crescimento acima de 2% nos quatro anos de gestão, acompanhado do aumento no emprego e na renda e de uma gestão fiscal suficiente para entregar a meta proposta. Será suficiente? No entendimento do Planalto, se a economia “chegar bem”, o presidente é favorito.
Também consideram nulas as possibilidades de
Jair Bolsonaro rever sua inabilitação para concorrer em 2026, ainda que a
direita se sagre vitoriosa nas urnas nas eleições municipais e que Donald Trump
vença nos Estados Unidos, o que poderia levar um entusiasmo ao Q.G.
bolsonarista. O fator eleições americanas é visto como pouco significativo para
a sucessão por aqui, exatos dois anos depois.
O que, então, poderia atrapalhar o caminho
traçado? Na avaliação do entorno lulista, o governo não pode errar com os
evangélicos e precisa melhorar a avaliação junto a um segmento fundamental para
a vitória de Lula, os jovens, que vêm demorando mais que outros a se reconectar
com o presidente, de acordo com as pesquisas.
O que pesa para a baixa adesão dos jovens, no
entendimento do Planalto, é o baixo desempenho das políticas de educação e
emprego voltadas para essa faixa. Especificamente, a dificuldade do Ministério
do Trabalho, sob o comando de Luiz Marinho, de lhes oferecer perspectivas e a
demora do MEC em definir o novo ensino médio entram na conta do que o governo
deve.
A percepção na cúpula do Executivo é que
outro fio que aqui andava desencapado, as mulheres, começou a ser recomposto
nos últimos levantamentos de avaliação do governo. A melhora é atribuída a
fatores como queda na inflação de alimentos e programas voltados a
microempreendedores, categoria em que as mulheres estão cada vez mais
presentes.
Um calcanhar de aquiles permanente, sempre
citado entre as preocupações do governo, é a comunicação. A mais recente queixa
diz respeito à percepção, que vai se tornando generalizada, de que o governo
aumentou a carga tributária. Integrantes do primeiro escalão dizem que passa
batido nessa narrativa o fato de Lula ter ampliado a faixa de isenção do
Imposto de Renda, que atinge uma fatia mais extensa da população do que as
medidas pontuais de fim de benefícios e isenções a grupos de grande poder
aquisitivo ou lobby.
O conjunto do road map para 2026, conforme
enunciado nas conversas de bastidores, é, portanto, para lá de otimista,
sobretudo quanto à possibilidade de a economia prosperar apenas com base nesse
mínimo necessário para não estourar a meta fiscal, uma vez que as contas
mostram que Haddad e companhia já caminham no limite de cima da margem de
tolerância estabelecida por eles mesmos.
Também parece haver excesso de confiança na
capacidade de aglutinação política de Lula, que se mostrou suficiente apenas
para uma vitória estreita em 2022 e, desde então, não só não se expandiu, como
sofreu retração.
Por fim, passar dois anos e meio sem reformas
de impacto mostra uma estreiteza de projeto que impõe a questão sobre qual será
o mote para buscar um novo mandato em 2026, num mundo em transformação cada vez
mais rápida.
Nesse capítulo, aliados de Lula sacam a carta
da transição energética e da liderança da economia verde, também usada há dois
anos, mas até aqui sem grandes entregas, para além de certo greenwashing de um
governo com cara de antigão.
Sei.
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