sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Andrea Jubé - Agenda internacional eleva pressão sobre Lula

Valor Econômico

Previsão é que presidente visite cinco países em dois meses, além de ser o anfitrião da cúpula do G20 no Rio de Janeiro

A intensa agenda internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre setembro e novembro, submeterá sua imagem de democrata a testes mais rigorosos e em palcos mais estratégicos, diante da posição de equilibrista do Brasil em relação à crise política na Venezuela.

A agenda, iminente, impressiona pela quantidade de compromissos em um curtíssimo espaço de tempo. A previsão é que Lula visite cinco países em dois meses, além de ser o anfitrião da cúpula do G20 no Rio de Janeiro nos dias 18 e 19 de novembro. Com o cerco mundial se fechando em torno da suspeição da reeleição do presidente Nicolás Maduro, o compromisso de Lula com os valores democráticos será colocado à prova em cada nova escala internacional.

Mais que o volume, todavia, importa o peso simbólico de algumas dessas agendas. É o caso do evento de iniciativa do próprio Lula e do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, que pretende reunir os líderes democratas mais influentes do mundo, em um ato político que ocorrerá em paralelo à Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em setembro, em Nova York.

O mote desse ato é justamente a defesa da democracia em reação à escalada do extremismo de direita no mundo ocidental, em especial, nas Américas e na União Europeia. Esse movimento - confirmado, principalmente, pelo avanço da ultradireita nas eleições para o parlamento europeu em junho -, acendeu um alerta entre líderes como Sánchez, o francês Emmanuel Macron e o alemão Olaf Scholz.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sinalizou que deverá comparecer; e na terça-feira (13), Lula convidou o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, para o evento.

Outro palco sensível, que expõe o Brasil diante da crise venezuelana, é o México, onde Lula desembarcará para uma visita oficial três dias antes da Assembleia da ONU. No início dessa semana, o México abandonou a mesa de negociações com Brasil e Colômbia, pela qual buscavam uma saída diplomática para o impasse no país vizinho.

Na segunda-feira (12), a presidente eleita Claudia Sheinbaum criou uma saia justa com o Brasil ao declarar que o México não deveria mediar o diálogo com a Venezuela porque esse papel seria de “organizações internacionais”. Um dia depois, o presidente Manuel López Obrador, de saída do cargo, chancelou a posição de sua aliada e sucessora. Lula chega ao país em tempo de prestigiar Obrador, um aliado histórico, já que a posse de Sheinbaum ocorrerá em 1º de outubro.

A debandada mexicana foi assunto do telefonema, fora da agenda oficial, entre Lula e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, sobre a crise venezuelena no início da noite dessa quarta-feira (14). Os dois mandatários ajustaram que seus países darão prosseguimento juntos aos esforços diplomáticos por uma saída negociada para a crise. Definiram que os próximos passos serão costurados pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e sua contraparte colombiana, Luís Murillo.

Há ideias sobre a mesa, como as que já foram ventiladas por Lula, e ratificadas por Petro em publicação na rede X nessa quinta-feira (14). O colombiano defendeu a revogação das sanções contra a Venezuela, anistia política, a formação de um governo conjunto entre Maduro e a oposição, de transição, até a realização de novas eleições.

Uma fonte diplomática relativizou a saída do México das negociações, alegando que o país tem tradição de “não entrar em bola dividida”. Diante dessa postura, avalia que as tratativas podem até ganhar agilidade. “É preciso uma linguagem prudente, não dá para queimar pontes, mas Lula também não vai endossar uma ditadura porque é um democrata”, salientou.

Diante da posição do México, tudo indica que o assunto Venezuela deverá passar ao largo da visita oficial, que mira o estreitamento dos laços e o impulso nas relações comerciais. Foi o que ocorreu no Chile, na visita oficial ao país no início deste mês. Enquanto Lula mantém a postura de equilibrista, o mandatário chileno Gabriel Boric, nos primeiros dias após a eleição, foi a público declarar que não reconhecia a vitória de Maduro.

Segundo fontes que integraram a comitiva chilena, a Venezuela foi tema de um único comentário público de Boric, na reunião ministerial conjunta, ao reclamar do crescimento do número de imigrantes venezuelanos no Chile: quase 800 mil já teriam entrado no país, fugindo do regime Maduro. No Brasil, estima-se que 1 milhão de venezuelanos cruzaram a fronteira a partir de 2017.

Após México e Estados Unidos, Lula viaja para a Rússia em outubro para a reunião do BRICS, bloco que, originalmente, era formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No ano passado, o grupo expandiu-se com o ingresso de Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. A Argentina seria o sexto novo integrante, mas o presidente Javier Milei não aderiu ao bloco.

Novembro será o mês mais atribulado de viagens Nos dias 11 e 12, Lula estará no Azerbaijão participando da 29ª Cúpula Mundial do Clima (COP), que em 2025, será no Brasil. No dia 15, deve viajar ao Peru, como convidado da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que reúne 21 economias, incluindo Estados Unidos e China. E nos dias 18 e 19, será o anfitrião da cúpula do G20 no Rio de Janeiro. Bem antes, espera-se que o equilibrista Lula tenha descido da corda bamba venezuelana.

 

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