Folha de S. Paulo
Decisão de Dino mexe com emendas que
revolucionaram regras de governabilidade há quase uma década
Flávio Dino acionou
um detonador que, de uma forma ou de outra, tem potencial para mudar de maneira
drástica o jogo de forças entre governo e Congresso. Depois de proibir a
distribuição de verba sem transparência pelos parlamentares, o ministro
decidiu limitar as
emendas impositivas, liberadas de forma obrigatória para deputados e
senadores.
A criação dessa ferramenta pelo Congresso, em 2015, foi uma revolução nas regras de governabilidade. O Executivo passou a ser obrigado a mandar milhões para os redutos de cada parlamentar. Com isso, o Planalto perdeu o poder de negociar a liberação de dinheiro em troca de apoio na Câmara e no Senado.
A verba garantida transformou de forma
radical a relação de parlamentares e presidentes. Se um deputado sabe que tem
R$ 37,8 milhões por ano para sua base eleitoral, ele não precisa passar o pires
nos gabinetes de ministros. Tem conforto para ampliar a pressão sobre o
Executivo e pode ficar tranquilo na oposição.
Dino ameaçou zerar o jogo. O ministro afirmou
que emendas impositivas violam a separação de Poderes porque reduzem a
prerrogativa do governo de executar o Orçamento. Na prática, ele
congelou pagamentos, deu ao Planalto o direito de aferir se as emendas estão
"aptas à execução" e mandou refazer as regras.
A aposta explosiva de Dino parece estar
depositada na oferta de um balão de oxigênio ao governo. Nesse cenário,
presidentes voltariam a ter a capacidade de usar as emendas para formar suas
bases de apoio no Congresso ou, no mínimo, negociar novos critérios de
pagamento que reduzam a desvantagem do Executivo.
O efeito, no entanto, também pode ser o
contrário. Nada tira da cabeça de deputados e senadores que existe uma
dobradinha entre Dino e Lula para
enfraquecer o Congresso e inutilizar a ferramenta mais importante que o centrão
tem para eleger os próximos presidentes da Câmara e do Senado. Secar a fonte na
qual os parlamentares bebem há quase uma década seria mais do que um pretexto
para uma crise grave.
Dino entende das coisas.
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