O Estado de S. Paulo
Todo presente deve ser da União, mas até lá não se pode ignorar regras nem misturar mil com milhões
Apolítica, quando embolada com a Justiça, o
que é muito comum, é capaz de dar um nó difícil de desatar. Como entender a
intenção da Advocacia-Geral da União de reclamar da decisão do TCU – que,
aliás, é um tribunal de Contas, não de Justiça – que dispensou o presidente
Lula de devolver o relógio Cartier que ele ganhou em 2005? Foi uma vitória ou
não de Lula? Ou ele estava louco para se livrar do presente e se sentiu
derrotado?
A questão complexa, uma teia de manobras, jogadas políticas, jeitinhos jurídicos, que exige malabarismos para entender e tentar explicar. Mas o resultado concreto, real, é simples: o bolsonarismo usou o relógio de Lula para (tentar) se livrar dos inquéritos e de condenações pelos estojos carregados de brilhantes que o então presidente Jair Bolsonaro não apenas fez tudo para botar a mão como até vendeu no exterior.
O pulo do gato foi levar o caso do relógio ao
TCU e, bingo!, chegar ao voto vitorioso do ministro Jorge Oliveira, nomeado por
Bolsonaro, dizendo que Lula e “ex-presidentes” estão isentos de regras sobre
presentes ganhos no cargo. Ué! E as normas e limites do próprio TCU, de 2016?
Ah! Para Oliveira, não cabe ao TCU, mas ao Congresso definir as regras. Até lá,
liberou geral.
Pela decisão, tanto Lula quanto Bolsonaro
podem dispor dos presentinhos à vontade, mas vamos combinar que as dimensões
são bastante diferentes. O que um relógio de R$ 60 mil tem a ver com colares,
relógios e abotoaduras de diamantes de mais de R$ 6 milhões? E Lula botou o
relógio no pulso e saiu por aí, enquanto Bolsonaro usou até avião da FAB, moveu
civis e militares, Itamaraty e outros ministérios para botar a mão nos estojos
e depois vender peças nos EUA.
O argumento principal para distinguir as duas
situações, porém, é a temporalidade, como destacou o relator Antonio Anastasia:
o relógio de Lula foi 11 anos antes e os diamantes de Bolsonaro já com as
regras do TCU valendo desde 2016. Anastasia votou por liberar o relógio para
Lula. Oliveira, para salvar Bolsonaro da Justiça. Pode dar certo ou não. A PF
diz que nada muda.
O fato é que se trata de um jogo de
espertezas, muito usado quando o investigado ou réu é rico, poderoso, com
advogados pagos a peso de ouro – ou de diamantes? O correto seria que todo
presente recebido por presidentes e autoridades em função do cargo fosse
automaticamente a guarda da União. Enquanto isso, não se pode misturar mil com
milhões, nem desconhecer datas em que atos e regras passaram a valer. Que o
bolsonarismo faça a festa nas redes sociais com o relógio de Lula, faz parte,
mas isso ter consequências em julgamentos são outros 500.
No momento que a nossa imprensa profissional assumiu se igualar ao que tem de mais rasteiro na internet nosso país ficou condenado ao populismo seja ele de esquerda ou de direita….
ResponderExcluirE ainda reclamam da polarização como se nada tivessem a ver com ela….
Mais uma vez a Eliane Cantanhede se posicionando como uma mãe de um menino desviado Sempre passando a mão na cabeça assim ela age toda vez
ResponderExcluirO que ela precisa entender que o desvio de mil ou milhões para a justiça de Deus e dos homens é a mesma coisa
O presente do Lula não foi de chefe de estado,outra diferença.
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