quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Elio Gaspari - Pablo Marçal e seu teleférico

O Globo

Suas ideias são velhas e ruins

Pablo Marçal, segundo as pesquisas, é uma novidade na política de São Paulo. Na noite de segunda-feira, o candidato a prefeito foi entrevistado na GloboNews. A primeira pergunta tratava de sua proposta para o sistema de transportes numa cidade onde os ônibus se movem a 16 quilômetros por hora.

Ele respondeu, criticando as promessas do prefeito Ricardo Nunes, prometendo empregos. De transporte mesmo, falou rapidamente de teleféricos. Mais adiante, cobrado, revelou que transportariam os passageiros a 22 quilômetros por hora, em linha reta. Lembrado de que São Paulo é uma cidade plana, não elaborou o tema. Topograficamente, um teleférico paulistano poderia levar os banqueiros da Avenida Paulista às suas casas nos Jardins.

Foi o melhor momento propositivo da entrevista. Fosse qual fosse o tema, Marçal repetia que suas ideias serão testadas com novas tecnologias. Um exemplo: Londres tem bons números de segurança porque usa programas de inteligência artificial. A velha cidade tem segurança há mais de um século, graças à inteligência craniana.

Quando o tema passou para as ligações documentadas de seu partido com o crime organizado, defendeu-se dizendo que não é dono da sigla e reconheceu que o fato “é constrangedor”. Marçal mencionou três vezes as acusações e os processos movidos contra Lula e expôs uma visão universalista:

— Se for para moralizar, tem que moralizar direito.

E se não for?

— Tem que limpar o país inteiro.

Concluindo:

— Meu partido é o Brasil. (Não, é o PRTB.) 

De maneira geral, propõe testar ideias antigas, progressivamente. O novo de Marçal é velho como a Sé de Braga. Promete criar 2 milhões de empregos, enxugar a máquina, melhorar a arrecadação.

A qualidade do ar é ruim? Plantaremos árvores. Ensinou por três vezes que os problemas têm causas e efeitos. Assim, a Cracolândia resulta de migrações internas, com os efeitos conhecidos. Entre um e outro, nada. Tangencialmente, disse que é preciso desenvolver o esporte nas escolas.

Marçal propõe a criação de um “Paço Municipal” e promete estimular centros gastronômicos. Mais adiante, bingo! Revisará todos os contratos de transporte da Prefeitura. (O doutor é novo na política. Até hoje, essa proposta só serviu para azeitar a revi$ão.)

Marçal é um caso raro de coitadinho profissional agressivo. Em geral, essa espécie é mansa, até a hora do bote.

— Está todo mundo contra mim.

E esclareceu:

— Agradeço a perseguição.

De onde saiu esse asteroide? Em parte, do eleitorado que não confia em políticos. Em outra parte, do voto de quem não gosta da administração de Ricardo Nunes, nem da biografia de Guilherme Boulos. Numa terceira parte estão os eleitores desencantados. Gente que viu o carro da Lava-Jato atropelar larápios do andar de cima e acabou obrigada a assistir à concessão de indulgências plenárias a gatos e lebres.

Comparar o vigor de sua campanha ao voto para vereador dado ao rinoceronte Cacareco em 1959 é impróprio. Ninguém pretendia botar o animal na Prefeitura onde estava Adhemar (“Rouba mas Faz”) de Barros. Em 1961, ao escolher o novo prefeito, São Paulo recolocou na cadeira o engenheiro Prestes Maia, um dos melhores da galeria.

 

4 comentários:

  1. Excelente! O colunista ainda tem razão no seu final: os eleitores paulistanos dispostos a votar em Marçal pretendem "botar o ANIMAL na Prefeitura"! Cacareco seria no máximo uma vereadora...

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  2. Marçal é uma novidade na política de São Paulo, mas já chega podre e fedendo na sua primeira eleição!

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  3. Meu nome é Ademar,por causa do ''rouba,mas faz'',rs.

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  4. O P de Pablo é o P do PCC! O M de Marçal é o M de Marcola...

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