Valor Econômico
Ainda não está claro qual o programa
econômico dos dois principais candidatos
O vai e vem dos mercados demanda atenção
especial de integrantes do governo desde a madrugada da segunda-feira, mas isso
não os afasta de outra missão estratégica. E fundamental. Há que se tentar
antecipar, ainda que em meio às turbulências do dia a dia, como a eleição
presidencial americana pode influenciar os rumos da economia dos Estados Unidos
e, consequentemente, do Brasil.
Por enquanto, nas palavras de uma autoridade, ainda não está claro qual o programa econômico dos dois principais candidatos, Kamala Harris e Donald Trump. “Tem vislumbres”, pondera. Mas isso tende a mudar com a campanha ganhando tração, a definição da chapa democrata, a intensificação de agendas públicas e a realização de debates.
Espera-se de Kamala Harris, atual
vice-presidente e candidata democrata, o fortalecimento da classe média e uma
política de incentivo ao setor industrial, com novos impulsos a obras de
infraestrutura e estímulos à energia verde. Na área social, a expectativa é que
encampe iniciativas inacabadas do atual presidente Joe Biden. Dois exemplos: a
ampliação do acesso a creches e a financiamentos estudantis. O histórico dela
no Senado permite vislumbrar que defenderia a redução dos gastos de habitação,
em uma tentativa de reduzir o custo de vida em um momento em que a inflação é
uma preocupação dos eleitores.
Em um contraponto ao candidato do Partido
Republicano, o ex-presidente Donald Trump, Kamala tem defendido os sindicatos.
E esse aspecto não passa batido entre os interlocutores do governo. “Com
Kamala, o cenário tende a ser muito parecido com o do Biden”, diz uma fonte.
Ela tem o desafio, contudo, de equilibrar-se
entre a defesa do legado do governo do qual faz parte com as críticas que a
Casa Branca recebe pela condução da economia. Há preocupações com o elevado
patamar dos preços ao consumidor e a intensidade da desaceleração do Produto
Interno Bruto (PIB).
Nos últimos dias, analistas têm se voltado
justamente para os dados do mercado de trabalho americano e para a atividade da
economia, os quais também provocaram as recentes turbulências nos mercados.
Para eles, há sinais pré-recessivos que legitimam os questionamentos quanto à
conduta adotada pelo banco central dos EUA, o Federal Reserve, que não cortou
ainda a taxa básica de juros local e, por isso, tenderá a fazê-lo em setembro
de maneira mais agressiva do que o previsto inicialmente. Em outras palavras, reduzi-la
em 0,50 ponto percentual - hoje ela está entre 5,25% e 5,50% ao ano.
Recentemente, o ex-presidente chegou a
declarar que não tentaria remover do cargo o presidente do Fed, Jerome Powell,
antes do fim de seu mandato, em maio de 2026. Por outro lado, criticou a
possibilidade de o banco central cortar os juros às vésperas da eleição, o que
poderia dar um impulso à economia e beneficiar a candidatura adversária. E isso
contrariaria todas as expectativas e também desejos da equipe econômica.
Mas o risco de mudanças na política monetária
é apenas um dos fatores citados no governo brasileiro, em caso de vitória de
Trump.
No limite, inclusive, o “vislumbre”
envolvendo uma eventual vitória de Trump vai além. Existe a perspectiva de o
ex-presidente isolar mais os EUA dos pontos de vista comercial e diplomático.
Mesmo tendo a China como alvo preferencial, outros países, como o Brasil,
poderiam ser atingidos por uma abordagem mais protecionista.
Em outra frente, acredita-se, a partir dos
feitos pretéritos e do discurso atual do republicano, que seu retorno à Casa
Branca poderia resultar em mais incentivos tributários. Isso poderia se
reverter em queda de arrecadação e pressão inflacionária, em um contexto de
mercado de trabalho resistente. “Pode haver mais inflação e, eventualmente, até
mais juros.”
Há que se ter em mente o que isso pode
representar para a economia doméstica, a condução da política monetária e taxa
de juros. No entanto, ainda assim, isso não necessariamente poderia representar
um efeito danoso para a economia global como um todo. Ou seja, apesar de mais
fechados e com juros mais altos, os EUA poderiam crescer em um ritmo mais
forte.
Além disso, os EUA novamente sob Trump
poderiam adotar posturas mais controversas em demais frentes, gerando outras
consequências que são difíceis de modelar economicamente.
Do ponto de vista das relações
internacionais, uma vitória do candidato republicano poderia forçar o fim da
guerra na Ucrânia, com uma vitória da Rússia. Em tese, isso poderia reduzir as
pressões observadas atualmente nos preços do petróleo e de alimentos. Porém, a
abordagem para a área ambiental de Trump é considerada desastrosa, sendo
prejudicial à sustentabilidade do crescimento global a médio e longo prazos.
“Isso tem impacto para o Brasil e não tem como modelar.”
Em relação ao Oriente Médio, um governo de
Kamala Harris em tese manteria uma postura dúbia em relação a Israel, dando
respaldo ao aliado histórico, mas atuando pela contenção da crise. Trump, por
sua vez, poderia avalizar ações de Israel cujas consequências seriam
imprevisíveis.
Economistas e diplomatas têm na formulação de
cenários tarefa fundamental na prática diária de seus respectivos ofícios. Em
algumas situações, suas conclusões são divergentes. Neste caso, contudo, é
consenso que não há como olhar apenas para juros e inflação. A abordagem
precisa ser mais ampla e ainda está em evolução.
O Trump vai ganhar da extrema esquerda Kamala
ResponderExcluirO anônimo acima acredita em todas as mentiras do criminoso Trump... Tem gente que realmente gosta de ser enganado(a)...
ResponderExcluir