Folha de S. Paulo
Aquecimento global vai criar tentação de
recorrer às geoengenharias; seria bom acordar desde já regras para isso
Cedo ou tarde vai acontecer. A crise
climática veio para ficar. Algumas nações sofrem bem mais do que outras. É mais
ou menos inevitável que em algum momento algum país ou bloco de países se sinta
tentado a apelar para medidas drásticas. Na prancheta, elas existem.
Geoengenharia é o termo guarda-chuva para descrever intervenções humanas com o objetivo de conter o aquecimento global. Ela abarca desde técnicas pouco polêmicas de sequestro de CO2 atmosférico, como o reflorestamento, já amplamente utilizado, até ideias mais ousadas, como a fertilização de oceanos com compostos de ferro, a fim de estimular a produção de fitoplâncton, que também fixa carbono. O problema é que isso nunca foi tentado em grande escala e poderia gerar efeitos adversos dos quais nem desconfiamos.
Uma das propostas mais controversas é a de
lançar grandes quantidades de dióxido de enxofre (SO2) na estratosfera. O
aerossol resultante refletiria parte da radiação solar de volta para o espaço,
produzindo um resfriamento do planeta. O fenômeno ocorre em explosões
vulcânicas. A erupção do
Pinatubo em 1991 causou uma redução de 0,55ºC nas temperaturas
médias do hemisfério norte ao longo do ano seguinte. As incertezas desse
processo, contudo, são enormes, e muitos temem que ele possa provocar
calamidades climáticas.
Meu ponto é que décadas de temperaturas
extremas testarão a paciência de povos e governantes. Seria bom tentarmos
acordar desde já regras globais que permitiriam recorrer a esses remédios
desesperados e desconhecidos. Parte dos cientistas acredita que só discutir a
possibilidade de geoengenharias já representa um "moral hazard"
(risco moral). Não discordo da avaliação, mas, mesmo assim, acho importante
tentar criar um método para deliberar sobre essas questões. A tentação virá e é
melhor que já exista um sistema para lidar com isso do que deixar a decisão
para ser tomada a quente.
Geoengenharia, mais um pesadelo pra piorar o futuro da humanidade e da Natureza durante as próximas mudanças climáticas.
ResponderExcluirViva a democracia tá bom
ResponderExcluirViva Isabelle
ResponderExcluirSenhor!
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