sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Marcos Augusto Gonçalves - Trollagem bolsonarista de Marçal dá grande resultado

Folha de S. Paulo

Candidato sobe em pesquisa com estratégia agressiva e extravagante que atrai bolsonarismo raiz

Não olhe para cima: o candidato Pablo Marçal (PRTB) disparou e está tecnicamente empatado com Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) nas intenções de voto para a prefeitura da cidade de São Paulo, de acordo com a mais recente pesquisa Datafolha. Ele chegou a 21%, no mesmo patamar do deputado do PSOL, que oscilou de 22% para 23%, e do prefeito, que foi de 23% para 19%. Numericamente, porém, deixou Nunes para trás.

O autodenominado ex-coach é um exemplo do que há de mais repulsivo no contágio da política pela bizarrice do populismo de extrema direita. Marçal é um padre Kelmon mais perigoso, uma trollagem bolsonarista que tem, por isso mesmo, atraído o apoio do rebanho do "capitão" –como ele se refere ao ex-presidente.

Uma espécie de Milei do cerrado brasileiro, caricatura do inconformado antissistema, Marçal se aproveita do perfil burocrático e tradicional de Ricardo Nunes, que tem o apoio formal de Bolsonaro, para se apresentar como um representante raiz do bolsonarismo.

Ignora e ataca as estratégias menos extravagantes do prefeito e do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), em sua versão engravatada de governador de São Paulo. Não poupa tampouco o próprio ex-presidente pelo apoio a seu ver equivocado a Nunes —e já armou um barraco com o filho Carlos Bolsonaro. Será que a pesquisa pode mudar essas relações?

Marçal leva à risca o receituário do populismo fascistoide de nossos tempos, cujo exemplo emblemático é Donald Trump: o caminho é caluniar e mentir. Se seu nariz crescesse a cada vez que faltasse com a verdade, já não caberia num palco de debate.

Para Marçal todo mundo é comunista, Nunes, Boulos, Tabata. O prefeito, além de tudo, seria um comuna "banana". Já o candidato do PSOL é acusado reiteradamente de ser usuário de cocaína, numa campanha sórdida que tem desafiado a própria atuação da Justiça. O candidato não parece preocupado com eventuais reprimendas de tribunais —ele que tem passado nebuloso, com condenação e atividades por esclarecer.

Estúpido, agressivo, espalhafatoso, Marçal faz lembrar o livro clássico "A Comunicação do Grotesco", de Muniz Sodré. À época, o professor se referia ao universo de programas de TV que exploravam a estética do grotesco para atrair audiência. Continua valendo, com alguma adaptação, para o mundo da comunicação digital.

A professora Yasmin Curzi, da FGV Direito Rio, referiu-se à campanha como "apocalíptica", contra tudo e contra todos. Não haverá um limite para essa atuação entrópica? Será possível que a degradação do debate público tenha nos condenado a patamar tão baixo de campanha eleitoral?

Sugeriria o bom senso e a razão (a essa altura espancados pelos fatos) que apesar do crescimento ruidoso, Marçal não teria condições de vencer ou chegar ao segundo turno das eleições. Agora já não se pode contar com isso. Ele tornou-se o bolsonarismo na disputa paulistana, mesmo que sem Bolsonaro. Não é improvável que venha a polarizar com Boulos, deixando Nunes fora do combate.

Em perspectiva histórica, o personagem mais extravagante que já ocupou a prefeitura paulistana foi, provavelmente, Jânio Quadros, um ícone do velho populismo de direita, a quem, aliás, conheci e por quem fui, com muita satisfação, processado. Perto de Marçal, Jânio era um sujeito equilibrado.

 

2 comentários:

  1. Tanta assombro com o candidato Pablo Marçal e Nenhuma estranheza com Boulos, um ex invasor de terra , preso já três vezes por essas práticas de invadir edifícios e apartamentos sem o menor respeito com a lei, e muitas vezes usufruindo vantagens de pessoas inocentes e carentes nunca fez nada de bom pra cidade de São Paulo
    Esse sim é um candidato que ameaça a vida de São Paulo e não uma pessoa próspera que sabe administrar , que tem amor a Deus e a família
    A esquerda é cega e burra em apoiar um candidato desse, é lógico que o Lula está fechado com o Boulos, tudo farinha do mesmo saco

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  2. Não adianta, é só alguém ameaçar o sistema vigente, que seus comparsas da extrema imprensa ja tira da cartola as palavras extrema direita, fascista, mentirosos e por aí vai, será que eles não se tocam que a população está percebendo a narrativa????

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