Valor Econômico
Sem rumo definido, o governo parece confinado às elocubrações do presidente da República e a atitudes descompensadas
Na escala que mede o nível da riqueza dos
países, o Brasil está não apenas estagnado há anos, mas tende a chegar a 2100
ainda mais distante do líder mundial, os Estados Unidos. Ou seja, faça sol faça
chuva, se mantiver os mesmos estímulos com vistas ao crescimento econômico
adotados nas últimas décadas, a maioria dos países de renda média - em que se
inclui a economia brasileira - passará muito provavelmente por processo de
desaceleração nos próximos 75 anos.
O prognóstico é do Banco Mundial. A partir do modelo de crescimento no longo prazo baseado em Solow-Swan - que busca medir a expansão das economias em um largo horizonte de tempo considerando a acumulação de capital, o aumento da população e da produtividade com progresso tecnológico - a instituição avaliou 108 países atracados na armadilha da renda média (com renda per capita no intervalo extenso que vai de US$ 1.136 a US$ 13.845).
O paradigma não é novo. Foi criado pelo
próprio Banco Mundial há anos. A ideia da armadilha tem a ver com uma espécie
de acomodação à conquista de um nível de bem estar que permite avanços, embora
insuficientes para o salto necessário à mudança de categoria de renda. Os 108
países analisados padecem de falta de investimento inovativo, de mão de obra
especializada e de eficiência na redução das emissões de dióxido de carbono, um
aspecto que ganha relevância ao lado de outros já “tradicionais”, como a má distribuição
de renda e a extrema pobreza.
O diagnóstico mantém-se praticamente o mesmo,
com o agravante de que fica cada vez mais difícil alcançar os mais ricos.
Alguns fatores como o envelhecimento da população e o menor ingresso de mão de
obra jovem no mercado de trabalho têm contribuído para dificultar a
transposição em geral dos países de renda média para o nível mais alto. Desde
1970, diz o Banco Mundial, a renda per capita daqueles países em termos médios
nunca ultrapassou um décimo da renda dos Estados Unidos. Tudo isso está no
“World Development Report 2024: the Middle Income Trap” (Relatório do
Desenvolvimento Mundial 2024: a Armadilha da Renda Média).
A grande novidade é a ênfase dada pelo
Relatório à atuação dos chamados “incumbents” - dirigentes de empresas privadas
e líderes do setor público - para a perpetuação do status quo, responsáveis que
seriam por manter os países de renda média amarrados às suas armadilhas.
O documento dedica um capítulo inteiro ao que
chamou de “Forces of Preservation” (Forças da Preservação). No fundo, trata-se
de apontar a responsabilidade das elites pelo aprofundamento da “armadilha”. Em
países do tipo da Belíndia, imaginada por Edmar Bacha, em que a parte associada
à Índia abriga a grande maioria da população de baixa renda, o egoísmo e a
visão de curto alcance da elite que se supõe “belga” contribuem para o
retrocesso econômico.
Os exemplos são fartos. O “pacto” firmado
entre as empresas e o Congresso Nacional pela manutenção da prática de
desoneração da folha de pagamento é um deles. Ao abrigo do argumento de apoio
aos empregos, os empresários brasileiros não querem perder os privilégios
garantidos no governo Dilma Rousseff. Não importa que isso implique custos para
a sociedade na forma de redução de verba pública em setores sensíveis ao
desenvolvimento como a educação e a saúde.
Outro exemplo é a pressão que setores
produtivos têm exercido sobre o Legislativo, com sucesso, quanto aos produtos a
serem beneficiados com baixo IVA, caso dos remédios, ou até isenção, caso da
carne, no bojo das discussões da reforma tributária. São medidas que atendem a
interesses específicos.
Também a avidez dos parlamentares de se
apoderarem cada vez mais das verbas do orçamento da União para programas e
projetos em suas áreas de influência política, sem controle e sem
transparência, encaixa-se na prática da absorção dos recursos públicos para
benefício de caráter pessoal.
No Brasil de 2024, não há plano ou projeto,
sequer há objetivos econômicos a serem perseguidos
São práticas disseminadas que minam o ideal
da política de atuar pela prosperidade do país e reduzem o papel do
empresariado à função de coletor de benesses do Estado. Alguém dirá que também
os juros altos limitam a expansão do PIB. Sem dúvida. Da mesma forma aqui, no
caso muito específico do Brasil, o raciocínio do benefício para poucos em
detrimento da grande maioria deve ser considerado.
O Relatório do Banco Mundial faz menção às
aspirações de alguns países de renda média, sedimentadas em planos com
objetivos de médio e longo prazos. A China quer chegar a 2035 com PIB per
capita de país rico. A Índia pretende tornar-se um país desenvolvido em 2047,
no centenário da sua independência. O Vietnã persegue o status de alto nível de
renda em 2045. O Plano Nacional de Desenvolvimento da África do Sul almeja
atingir renda per capita de US$ 7 mil em 2030. Nenhum desses planos tem
garantia de sucesso.
O Banco Mundial recomenda uma transição em
duas etapas: primeiro, o investimento deve imitar e difundir as tecnologias
modernas desenvolvidas em outros países de modo que a capacitação doméstica
permita adicionar valor às tecnologias globais. Nessa etapa, os países entram
na categoria de inovadores.
No Brasil de 2024, não há plano ou projeto,
sequer há objetivos econômicos a serem perseguidos. Sem rumo definido, o
governo parece confinado às elocubrações do presidente da República e a
atitudes descompensadas, como a do Ministério das Comunicações, que apagou da
foto da premiação a atleta Rebeca Andrade. Trocou-a pela imagem de um
computador, como se isso denotasse algum tipo de avanço tecnológico (sic!).
Não, representa apenas atraso e mediocridade.
Esse é o Lula e o PT sem maquiagem , vocês é que alimentaram ilusões em relação a esse partido que foi autora chamado de organização criminosa Pelo ex ministro do STF Marcos Aurélio Melo
ResponderExcluirE cada vez a imprensa caindo mais no descrédito pela sua Militância esquerdista