O Globo
Elon Musk é um herói por ter dado, para a
direita, uma rede em que ela pode ser livre
Alexandre de
Moraes está pondo em risco sua vitória mais importante. Por
mais que muitos desejem negar, no último sábado Elon Musk, o bilionário dono do
X, o colocou em xeque. Ao fechar os escritórios da plataforma no Brasil,
recusando-se a obedecer a ordens judiciais, Musk desafia Alexandre. Pede que o
Supremo mande interromper o acesso à rede em todo o território nacional. Se e
quando a Corte fizer isso, estará de fato censurando, para milhões de
brasileiros, uma rede social inteira.
Não é assunto fácil de discutir. Nos polarizamos de uma forma tanto agressiva quanto infantilizada. As personagens da vida pública se tornaram vilões ou heróis, todos de forma caricata. Isso acontece faz mais de uma década com juízes em particular — Joaquim Barbosa, Sergio Moro, agora Alexandre. Perdemos a capacidade de enxergá-los como funcionários públicos que às vezes erram, às vezes acertam e cujo acerto uma hora não os impede de errar na outra. É preciso ser irredutivelmente a favor ou contra.
Compreender a natureza agressiva e infantil
da nossa polarização é essencial para navegarmos a democracia brasileira na
direção de seu fortalecimento. A polarização digital é uma racionalização. Os
dois grupos polarizados constroem a realidade em que vivem por meio das
histórias que contam a si mesmos. E, no cerne da história que a direita adota,
está a ideia de que conservadores são calados pela elite progressista. Por
políticos e juízes, professores e jornalistas, pelas redes sociais. Nessa
história, Elon Musk é um herói por ter dado, para a direita, uma rede em que
ela pode ser livre. E Musk reitera essa história a cada tuíte.
A verdade não é essa. Se um dono de rede
social apoiasse ostensivamente a esquerda como Musk faz com autoritários de
direita, os reacionários teriam uma síncope. Mas não importa que não seja
verdade, porque o grupo se sente perseguido e, da maneira como vê, Musk é uma
ilha num oceano de injustiças. O dono do X gosta desse papel. Esse forte
sentimento de injustiça é o que galvaniza o grupo e dá solidez ao movimento.
Os dois inquéritos abertos de ofício dentro
do Supremo Tribunal Federal, comandados por Moraes, foram necessários e são
legais. Foram necessários porque o presidente da República criava o ambiente
para dar um golpe de Estado. Quem deveria representar os interesses da
sociedade era o procurador-geral da República. Jair
Bolsonaro neutralizou a PGR ao colocar em seu comando quem não
hesitaria em fingir que não via nada. Restou ao Supremo essa manobra legal.
Ocorre que Bolsonaro não é mais presidente
faz quase dois anos, e o comando da PGR já mudou faz um ano. Um inquérito em
que o mesmo ministro do Supremo é juiz e procurador pode ser legal, mas
eticamente não se sustenta mais.
Crimes foram cometidos contra a democracia
brasileira. Precisam ser julgados. Mas devem ser julgados sob a luz do sol. Às
claras. A investigação deve ser transparente. Caso seja necessário impedir que
alguém tenha acesso às redes sociais por colocar em risco a democracia, algo
cada vez mais difícil de defender, a sociedade tem o direito de saber quem,
quando e por quê. Ordem de censura é coisa séria. Ideias ruins, desagradáveis
ou mesmo ofensivas não devem ser censuradas numa democracia. A censura só é justificável
se, no contexto em que sejam manifestadas, as ideias servirem também de
incitação ao crime. Há dois anos era crível. Esse ambiente não existe mais.
Quem defende que o bolsonarismo deve ser
calado para não ser fortalecido não compreende o judô em curso. Quanto mais se
tenta calar esse movimento, mais forte ele fica. Quem saca o argumento do
“Paradoxo da tolerância”, de Karl Popper, em geral na forma de cartum, deveria
reler o autor urgentemente. Uma democracia se defende com democracia, com
abertura, com transparência, com argumentos. No debate público. Não às
escondidas.
Musk, ao fechar o escritório do X no Brasil,
apresenta aos ministros do STF um
desafio. Ele quer ser calado. Quer a ordem de proibição ao acesso à plataforma
no país. Confirmará com clareza a perseguição imaginada. O Supremo se colocou
nessa situação. O jeito de escapar à armadilha é abrir para todos os
brasileiros esse inquérito, explicar por que cada decisão foi tomada, contar,
enfim, a história do que se passou nos quatro anos do governo anterior.
É hora de sairmos do estado de exceção. A
democracia sobreviveu. É hora de deixá-la agir.
Quanto rodeio pra dizer que nós estamos numa ditadura em que um juiz exerce a função de policial supremo do país Nada justifica a censura, nada justifica a perseguição por questões de opinião aos opositores e fica a própria imprensa que outrora tinha a liberdade de manifestação expressão como valor Sagrado hoje relativiza a censura , mesmo assim já estão vendo que o pau já está cantando na cabeça deles como agora a Folha de São Paulo foi acusada por Alexandre de Moraes de produzir Fake News tendo todo uma documentação gravada
ResponderExcluirNovos ventos estão soprando, mas se dependesse da nossa imprensa íamos ficar na escuridão para sempre
A escuridão dos 4 anos de DESgoverno Bolsonaro felizmente já acabou, mesmo que o anônimo mentiroso acima não reconheça. A Democracia venceu no país, e o GENOCIDA está sendo investigado, já deveria ter sido processado, pra poder ser FINALMENTE CONDENADO E PRESO por tantos crimes. Seus cúmplices, como o anônimo acima e os golpistas de 8 de janeiro, também estão sujeitos às leis brasileiras, que o canalha Musk não quer obedecer. Ele é podre de rico, mais podre que rico, mas tb tem que seguir nossas leis pra atuar no Brasil.
ResponderExcluirDaniel, o petralha, chama o Anônimo de mentiroso. Roto e esfarrapado destruindo o Brasil... MAM
ResponderExcluirFazer coro aos desmandos desse almofadinha imperialista, mesmo que com todos os contornos, é temeroso, ineficaz e perturbador, ainda mais vindo de onde tá vindo. Não entender essas manobras que visam desestabilizar nossa fragilizada democracia. .Já gostei mais do cronista.
ResponderExcluirEm tempo: Gilson
Excluir