domingo, 4 de agosto de 2024

Vagner Gomes de Souza - As escolhas políticas na sucessão carioca

Voto Positivo

Nos tempos de ausência da democracia, o Vice-presidente Aureliano Chaves afirmou que o “Vice não é nada!” um momento que provavelmente marcaria seu afastamento do regime militar até apoiar a Aliança Democrática sob a cabeça de chapa de Tancredo Neves que teve a consciência política da moderação ao convidar José Sarney para seu companheiro de chapa. Diferente do bordão de Jô Soares (“Vice não é nada. Tirando Aureliano, que fala, o resto, ó!…”); numa eleição majoritária a escolha da candidatura a Vice pode em muito contribuir para influenciar os resultados eleitorais. O comportamento político e eleitoral da sociedade pode ser observado nesses momentos de anúncio. Muitas vezes a escolha se faz de uma forma “mecânica” o que não indica que tenha resultados perceptíveis.

Não há o melhor momento para o anúncio de uma candidatura a Vice. A dobradinha Lula-Alckmin, que uniu dois adversários políticos numa Frente Democrática, foi anunciada muito antes das convenções partidárias para acalmar os prantos de “gregos e troianos” que teimavam na linha política da Frente de Esquerda com a falcatrua da Frente Ampla. Em muitos casos, por conta de correlações partidárias complexas ou para alçar a dinâmica da campanha eleitoral o anúncio da candidatura a Vice se faz quase que ao limite do que se é permitido pela legislação eleitoral. O fundamental é que os dois nomes tenham sintonia política e não seja uma imposição de circunstâncias. A bela bibliografia política do candidato a Vice muitas vezes não soma votos a um processo político que já esteja comprometido como vimos na sucessão estadual do Rio de Janeiro numa das candidaturas de oposição.

A clareza programática também se faz necessária ao ponto que crie uma sinergia de forças políticas renovadoras até as eleições. Portanto, muitas vezes, buscar um Vice pela tabela do perfil do eleitorado é um risco político se não houver a percepção do eleitor de que aquela dobradinha soar como uma escolha artificial por indicação de um nome externo ao processo. Esse é um dos desafios de uma das candidaturas de oposição a sucessão carioca ao considerar que o “peso eleitoral” do segmento evangélico, negro e feminino transfere votos para sua candidatura pela escolha de uma Deputada Estadual sob o patrocínio de um antigo Presidente da Câmara dos Deputados. Ou seja, bons nomes políticos muitas vezes surgem em contextos políticos desfavoráveis uma vez que se antes o questionamento era em relação ao desconhecimento da cultura política carioca do adversário da oposição agora se acrescenta com a indicação feita pelos “Laboratórios de Consultorias Políticas” sem levar em consideração aos ensinamentos de Maquiavel.

Eleições ainda têm muito de elementos da “fortuna” e também da “virtú”. Nas palavras do pensador de Florença, “o primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta.” Esse é um fator determinante nas escolhas políticas na sucessão carioca porque temos que demonstrar que passamos pelo “furacão” das contas públicas municipais, mas o cenário no futuro não é de calmaria. Portanto, a experiência passada para uma equipe de Governo é determinante para que o Rio de Janeiro não busque atalhos numa nacionalização do voto que simplesmente nos empurraria para a ausência do debate programático. Sabemos em muito que alguns opositores se movem pela ganância por negociações no futuro.

Consequentemente, a candidatura à reeleição de Eduardo Paes num conjunto de forças políticas aliadas suprapartidárias fez uso da sabedoria do autor de O Príncipe uma vez que “quando um homem é bom amigo, também tem amigos bons.” O anúncio de seu companheiro de chapa demonstra muito a prudência da política associada a possibilidade de renovação dos quadros políticos carioca com nomes que sejam abertos a ouvir a experiência. Para além de uma configuração “puro sangue”, observamos sim a mais pura grande política na cultura política carioca diante dos desafios de uma cidade que será Capital Mundial do livro em 2025. Se os livros são veículos essenciais para acessar, transmitir e promover a educação, a ciência, a cultura e a informação, esse é um caminho a se aprofundar no debate eleitoral carioca.

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