O Globo
Lula terá de decidir quão bem-sucedido será o
BC, por sua escolha para presidente e pela condução da política econômica
A inflação está na casa de 4% e sua
trajetória indica que a convergência para a meta de 3% não ocorrerá tão cedo.
Para se ter uma ideia, a projeção do Banco Central (BC) para seis trimestres
adiante — o intervalo de tempo necessário para a política monetária afetar a
inflação de forma relevante — é de 3,2%, isso mesmo com taxa Selic mantida
estável em 10,5% ao ano.
A preocupação do BC é clara.
Um fator crítico é a corrosão da credibilidade da autoridade monetária, como refletido nas expectativas inflacionárias desancoradas, ou seja, acima da meta. Atualmente, a projeção dos analistas para 2025 está em 4%, enquanto no mercado financeiro a taxa de inflação implícita ou embutida na negociação de títulos públicos indexados ao IPCA está na casa de 4,8%.
A desancoragem de expectativas é problema
sério. Ela pode estimular maiores remarcações de preços, como, por exemplo, o
repasse de reajustes salariais aos preços finais. Ao se acreditar que o BC
aceitará uma inflação mais elevada, não haveria, pois, grande risco de o
repasse ser um movimento isolado, que comprometeria o market-share da empresa.
Em sua comunicação, o BC tem dado destaque ao
aquecimento do mercado de trabalho. Pudera, a taxa de desemprego está nas
mínimas históricas, os ajustes salariais têm sido mais vantajosos aos
trabalhadores e alguns setores encontram dificuldades para contratar mão de
obra. É o caso da construção civil, cujo custo da mão de obra cresce a um ritmo
de 7% — claro que com a inflação alta, o ganho salarial será corroído.
Quando se soma a esse quadro a baixa
ociosidade de capacidade instalada, tanto na indústria como nos serviços,
parece claro que a economia opera no chamado pleno emprego. Nessas condições, é
maior o risco inflacionário, o que significa que não haverá espaço para corte
de juros tão cedo.
Haveria, assim, justificativa clara para o BC
retomar a política de elevação da Selic rapidamente. O cálculo, porém, é mais
complexo, pois há muitas incertezas que reduzem a confiabilidade nas projeções
de inflação. Vou elencar dois pontos principais.
Começando pelo quadro externo, ainda que a
moeda norte-americana se mantenha forte nos mercados globais, inclusive por
conta das muitas incertezas que estimulam o conservadorismo de investidores, há
espaço para algum enfraquecimento do dólar, conforme se materialize o provável
cenário de corte de juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano)
nos próximos meses.
Afinal, a economia nos EUA perde força de
forma mais disseminada, com alta do desemprego, enquanto a inflação caminha
para a meta de 2%.
Outro ponto é a transição do time do Copom
(Comitê de Política Monetária), com a troca do presidente. Os ataques de Lula à
política monetária alimentam as expectativas inflacionárias e fazem com que o
próximo presidente já comece seu mandato enfraquecido.
O antídoto para isso seria Lula indicar
rapidamente alguém com reputação sólida junto a investidores e de perfil
independente. Isso reforçaria a credibilidade da meta de inflação. Promover
alguém da atual diretoria a presidente não seria, por esse aspecto, uma boa
opção.
Esses dois fatores de incerteza recomendam o
BC aguardar para avaliar se será necessário ou não subir os juros. Melhor
perseverar com discurso cauteloso e decisões unânimes, até que o quadro fique
menos nebuloso e as projeções de inflação mais confiáveis.
Na escolha de política monetária, os custos e
benefícios de cada opção precisam ser ponderados, inclusive o custo de a
volatilidade dos juros machucar o setor privado, ainda sob estresse financeiro,
prejudicando o investimento.
Na manutenção dos juros, o risco é de uma
maior desancoragem de expectativas, aumentando o desafio do futuro BC. Já o
aperto monetário agora estaria longe de propiciar sua reancoragem. Poderia
significar jogar munição fora, no sentido de a ação não produzir o ganho de
reputação esperado ao BC, pois, corretamente ou não, os agentes econômicos
poderão temer que o próximo presidente irá cortar a Selic na primeira
oportunidade. Se tiver de subir os juros, que o próximo BC o faça, reforçando
sua reputação.
O risco fiscal é uma outra estória. Além do
impulso à demanda em uma economia em pleno emprego, o impacto da política
fiscal na taxa de câmbio traz risco adicional à inflação.
Lula terá de decidir quão bem-sucedido será o
BC, por sua escolha para presidente e pela condução da política econômica.
Não entendi o ''estória'',rs.
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