Folha de S. Paulo
O antissistema na política é um programa de
auditório com baixarias
O chamado antissistema é o próprio sistema em
ação. É a maneira de fazer política que conquista eleitores pelo menos de uns
30 anos para cá, oficializando governos liderados por comediantes que se valem
da sedução da cultura de massa. Com o avanço das redes sociais, o esquema se
fortaleceu: personalidades inventadas, mitos forjados, eventos falsos, mentira
passando por informação verdadeira. Circo sem pão.
Ao chamar Datena de "arregão" no debate, Marçal ganhou a cadeirada ao vivo. Cena típica dos mais apelativos programas de auditório. Não por acaso, o apresentador Ratinho convidou os dois para brigarem diante de suas câmeras: "Pode meter o braço".
O candidato provocador agradece a agressão,
pois a baixaria o põe de novo na berlinda. Discute-se se o coach é um Bolsonaro
reboot, que avança na mesma faixa de votos e ameaça jogar o capitão
definitivamente para a reserva. Ou se é um Celso Russomanno reciclado, que vai
perdendo gás ao longo da disputa.
Marçal, ao contrário do que se acredita, é
bem tradicional em intenções e gestos. Sua campanha expõe dois pilares da
política brasileira. O primeiro é o descumprimento sistemático da lei
eleitoral. O segundo é a suspeita cada vez mais forte da penetração do crime
organizado nas estruturas do Estado.
Para ficar em só exemplo, e dos mais comuns:
os repórteres Aline Ribeiro e Rafael Soares mostraram que um candidato a vereador de Nilópolis, na Baixada Fluminense —que nas redes
postava vídeos dizendo ter o sonho de ver as pessoas conversando em frente ao
portão de casa sem serem assaltadas— foi condenado a mais de sete anos de
prisão por integrar uma milícia.
Com 14% da população vizinha de organizações
criminosas, segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é
escancarada a interferência de facções como PCC e
Comando Vermelho nas eleições municipais. As cidades com mais casos de
atentados e assassinatos de lideranças comunitárias registraram uma queda acima
da média nacional no volume de candidaturas. Com o tempo, só vão ficar os
palhaços e os bandidos.
Muito bom! E já tem muito mais bandidos que palhaços.
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