O Globo
Delegado parece querer convencer cariocas de
que eles moram na pior cidade do mundo
Alexandre Ramagem adotou uma estratégia
curiosa para tentar se eleger prefeito. Quer convencer os cariocas de que eles
vivem na pior cidade do mundo.
A propaganda do delegado retrata o Rio como
um lugar sombrio e perigoso, quase inabitável. Até aqui, o discurso não colou.
Apesar de ter o maior tempo de rádio e TV, o bolsonarista está longe de ameaçar
a liderança de Eduardo Paes. Se a eleição fosse hoje, seria derrotado no
primeiro turno.
Candidatos de oposição costumam investir em campanhas negativas para estimular o desejo por mudança. A questão é combinar o marketing com o sentimento do eleitor. Segundo o Datafolha, a gestão de Paes é aprovada por 51% e reprovada por 13% dos moradores do Rio. Goste-se ou não do resultado, ele indica uma cidade pouco inclinada a arriscar nas urnas.
A aposta no baixo astral já expôs Ramagem a
um vexame. No início do mês, ele publicou vídeo em que prometia revelar o “Rio
sem maquiagem”. A peça exibia cenas de alagamentos, esgoto a céu aberto e lixo
nas ruas. Na imagem mais chamativa, uma placa sinalizava uma cratera no asfalto
com a inscrição “Cuidado, buraco novo”. Se tivesse consultado o Google, o
delegado saberia que a foto era de outra cidade. Foi tirada em Bragança, no
interior do Pará.
O episódio não foi a única lambança do
ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência. Na semana que passou, a
campanha do PL tentou associar Paes ao assassinato da vereadora Marielle Franco
porque o prefeito entregou uma secretaria ao deputado Chiquinho Brazão, um dos
acusados de tramar o crime. Faltou contar que Brazão foi indicado pelo
Republicanos, partido que hoje apoia Ramagem. O bolsonarista foi obrigado a
engolir um sermão de Eduardo Cunha, que chamou seus marqueteiros de
“incompetentes”.
Com a proximidade da eleição, Ramagem
redobrou a presença de Jair Bolsonaro no horário eleitoral. A overdose o ajudou
a se descolar do pelotão dos nanicos, mas produziu um efeito colateral. Seu
índice de rejeição cresceu mais do que as intenções de voto. Agora 17% dos
cariocas querem eleger o deputado, enquanto 37% dizem não votar nele de jeito
nenhum.
Em defesa de Ramagem, é preciso reconhecer
que sua campanha nunca teve medo de ousar. No programa de estreia na TV, o
bolsonarista tentou atrair simpatia chamando potenciais eleitores de “manés”.
“Vamos mostrar que dessa vez, nós, os otários, vamos vencer”, conclamou.
Ao que indicam as pesquisas, a revolução dos
otários vai ficar para depois.
Supremacia branca
Em jantar com ministros do STJ, Lula reclamou
da falta de diversidade na cúpula do Judiciário. Dois dias antes, no Itamaraty,
o presidente disse que a Justiça é dominada por uma “supremacia branca, que não
tem nada a ver com a realidade brasileira”.
A queixa soaria mais sincera se fosse acompanhada de uma autocrítica. Desde 2003, o petista indicou dez ministros ao Supremo. O único negro foi Joaquim Barbosa. Neste mandato, ele ignorou apelos para substituir Rosa Weber por outra mulher, e Cármen Lúcia voltou a ser a única juíza da Corte.
É,reclamar é fácil.
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