Valor Econômico
Disputas nas capitais testam várias hipóteses sobre o que rege a política brasileira atualmente
Toda eleição é uma nova oportunidade de
verificar como estão funcionando as engrenagens que movem a política
brasileira. Nas disputas para as prefeituras, fica ainda mais nítida a
interação de forças relacionadas aos atributos pessoais dos candidatos (carisma,
estratégia de comunicação, preparo profissional etc.) e toda a estrutura que
movimenta as campanhas (apoios políticos, acesso a financiamento, uso de cargo
público, entre outras).
O peso que cada característica terá no resultado final depende das circunstâncias em cada lugar, mas é importante observar as tendências, pois algumas vêm para ficar, enquanto outras se revelam modismos passageiros.
Em 2016, as eleições municipais foram
abaladas consideravelmente por dois fatores. A Operação Lava-Jato, com
denúncias envolvendo integrantes de diferentes partidos, e o impeachment de
Dilma impulsionaram o sentimento antipolítica em boa parte da sociedade. Além
disso, a decisão do Supremo Tribunal Federal de proibir as doações de empresas
- num ano em que o fundão eleitoral ainda não havia sido aprovado -
desarticulou as fontes de arrecadação dos partidos tradicionais.
A combinação desses condicionantes levou a
vitórias significativas de candidatos que se apresentavam como não políticos (o
caso dos “gestores” João Doria Jr. em São Paulo e Alexandre Kalil em Belo
Horizonte são os mais emblemáticos) ou que se valiam da religião para ampliar
sua base de eleitores (como o bispo Marcelo Crivella, no Rio).
Em 2020 a covid deu o tom da disputa e dos
resultados. Num contexto em que muitos prefeitos assumiram a responsabilidade
de coordenar as ações contra a pandemia e a campanha se deu sob fortes
restrições de aglomeração, a taxa de reeleição foi bastante elevada. Nas
capitais, dos treze mandatários que tentaram mais quatro anos de governo, dez
foram bem-sucedidos (sendo que seis deles o fizeram ainda no primeiro turno).
Neste ano, quatro forças têm interagido - de
forma combinada ou conflitante - e permitem levantar hipóteses sobre a
capacidade de influenciar as urnas.
O primeiro vetor é a incumbência, que
tradicionalmente dá aos atuais ocupantes de um cargo majoritário uma série de
vantagens sobre seus concorrentes. Neste ano, vinte prefeitos de capitais
tentam se reeleger, e têm à disposição o uso da máquina pública e os cofres
cheios de recursos, muitos deles graças a empréstimos bancários feitos nos
últimos dois anos (como demonstra matéria de Patrick Camporez em O Globo de
ontem).
A se pautar pelas últimas pesquisas, alguns
deles têm alta probabilidade de se sagrarem vitoriosos ainda no primeiro turno,
como Dr. Furlan (MDB) em Macapá, João Campos (PSB) em Recife, JHC (PL) em
Maceió, Bruno Reis (União Brasil) em Salvador, Eduardo Paes (PSD) no Rio e
Arthur Henrique (MDB) em Boa Vista. Cícero Lucena (PP) em João Pessoa, Lorenzo
Pazolini (Republicanos) em Vitória, Topázio Neto (PSD) em Florianópolis e David
Almeida (Avante) em Manaus também têm larga margem sobre seus adversários.
Mas as eleições locais não se nutrem apenas
da energia local. Do ponto de vista da lógica partidária, das 25 capitais com
pesquisas Quaest ou Datafolha publicadas recentemente, o União Brasil lidera em
seis, o PL e o PSD, em quatro cada um, seguidos de MDB (três), PP e
Republicanos (duas cada). É de se esperar que essa tendência se replique pelo
interior do país, potencializada pelas emendas parlamentares, que tendem a
favorecer políticos do Centrão.
O pleito servirá também para medir a
temperatura da polarização que incendiou o país nos últimos anos. No ótimo
livro “Biografia do abismo”, Felipe Nunes e Thomas Traumann lançaram a tese de
que o antagonismo entre lulistas e bolsonaristas contaminou até as relações
pessoais.
No entanto, serão poucas as oportunidades
para se testar essa proposição. O PT lançou apenas 13 candidaturas próprias
para as capitais, e destas apenas Adriana Accorsi em Goiânia, Fabio Novo em
Teresina e Maria do Rosário em Porto Alegre engrenaram até o momento.
Entre os candidatos do PL que não contam com
a força do cargo de prefeito para impulsionar suas campanhas, as bolsonaristas
Janad Valcari em Palmas, Mariana Carvalho em Porto Velho e Emília Corrêa em
Aracaju lideram as pesquisas, além do Delegado Éder Mauro em Belém.
Com poucas oportunidades de embates diretos
entre petistas e bolsonaristas, todos os olhos se voltam para São Paulo, onde
Lula e Bolsonaro apoiam candidatos aliados - Guilherme Boulos (Psol) e Ricardo
Nunes (MDB), respectivamente.
Nesse conflito mediado por terceiros, a
ascensão de Pablo Marçal (PRTB) vem confundir as posições. Numa eleição que até
o momento reforça o poder de atributos políticos tradicionais (cargo, emendas,
fundão, tempo de TV), o “ex-coach” é um dos poucos candidatos nas capitais a
assumir o papel de outsider e aparecer com chances reais de vitória.
Pelo forte discurso antipetista, postura
beligerante e protagonismo nas redes sociais, Marçal também reacende, na maior
cidade do país, a velha polarização direita e esquerda em sua máxima octanagem.
Parece que agora a ficha está caindo pra imprensa oficial e torcer tanto pro candidato da extrema esquerda do PSOL Guilherme bolos
ResponderExcluirMarcal tem tudo pra ganhar as eleições, talvez até no primeiro turno, pra desespero de Lula e a sua gangue
Marçal não conseguiu nem subir no palanque de Bolsonaro ontem...
ResponderExcluirMarçal rachou a direita.
ResponderExcluirMuito boa e informativa análise.
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