O Estado de S. Paulo
Aos poucos, analistas e políticos começam a
entender a importância de um movimento relativamente novo e de grande impacto
econômico e político no Brasil que leva o nome de Teologia da Prosperidade.
Quem zapeia os programas de TV das igrejas
evangélicas logo percebe a frequência que é dada a quadros do tipo “xô
pobreza!”, com seguidos depoimentos de gente que estava na pior e começou a
prosperar, sempre com as graças do senhor.
São histórias que seguem mais ou menos este roteiro: “Estava largado da mulher, comecei a beber, não tinha onde cair morto, acabei dormindo debaixo da ponte, mas caí em mim, orei para o Senhor, recomecei e dei a volta por cima. Hoje tenho uma empresa com vários empregados, dois carros, estou ficando rico e vou ficar ainda mais...”.
Não é coisa de meia dúzia de casos. São milhares e milhares. As igrejas evangélicas vêm cultivando a versão brasileira para o que, em 1904, o sociólogo alemão Max Weber chamou a atenção em seu livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
É a ideia de que pobreza é atraso de vida,
que tem de ser erradicado das pessoas e das famílias. O enriquecimento pessoal
e o empreendedorismo são sinais da graça de Deus, concedidos a quem se esforça,
cultiva os bens materiais e se torna patrão de si mesmo. Se vier uma ajuda do
Estado e do político da hora, vá lá, não é para desprezar, mas não se pode
contar com isso. O importante é trabalho, é suor e subir na vida.
A digitalização do cotidiano, por meio dos
aplicativos, vem ajudando a espraiar a nova mentalidade que valoriza as
qualidades individuais, a prestação de serviços, de preferência a vários
clientes, e a criação da jornada independente de trabalho. Para esse novo
estrato social, a ação sindical só atrapalha.
O PT tenta dialogar com essa clientela ligada
aos evangélicos que escapa de sua área de influência. Mas insiste em
explicações e na visão antiga de mundo que não os atingem, como a teoria da
luta de classes e a da organização do proletariado contra a dominação da
burguesia, para a construção da sociedade socialista.
As implicações políticas e econômicas dessa
busca da prosperidade começam a ficar claras. As pequenas e médias empresas e o
trabalho autônomo se multiplicam. Os sindicatos, que já vinham se esvaziando
por outras razões, tendem a se enfraquecer ainda mais. Aumentam
os apelos ao avanço social, em alguns casos
sem olhar para que meios, como se vê pela ascensão do candidato Pablo Marçal,
em São Paulo. Como a contribuição ao INSS é muitas vezes ignorada, as finanças
da Previdência vazam sem controle, o que concorre para o aumento do rombo
fiscal.
A Teologia da Prosperidade e esse novo
empreendedorismo são coisas relativamente novas neste Brasil colonizado pelos
jesuítas que pregavam o desprendimento dos bens materiais. Tudo isso é um vasto
assunto à procura de mais estudos para avaliação de seu impacto sobre a
economia e a política.
Não há como não deixar de fazer um contraponto à coluna de Ruy Castro, postada hoje no blog :
ResponderExcluir" A riqueza, para o brasileiro, não é o acúmulo penoso de dinheiro poupado graças a muitas horas de trabalho", disse Stefan Zweig. "É algo com que se sonha; tem que vir do céu e no Brasil, a loteria é esse céu. É a esperança quotidiana de milhões. A roda da fortuna gira todos os dias. Nos bares, nas ruas, a bordo e nos trens oferecem-se bilhetes de loteria. Todos os brasileiros os compram com o que sobra do seu salário. A determinada hora vê-se grande multidão diante do local da extração; em todas as residências e casas comerciais estão ligados os rádios; a expectativa do país inteiro se volta para um número. O que lhe falta de cobiça, o brasileiro compensa com esse sonhar cotidiano de um enriquecimento repentino."
Isso só mostra como nossa sociedade é complexa.
Ming se enganou no título - ele deveria chamar Teologia da PICARETAGEM! E bota picaretagem nisto.
ResponderExcluirDecepcionante a abordagem de hoje por um colunista experiente. Tratar com alguma seriedade a tal Teologia da prosperidade é um desserviço aos leitores e à Economia brasileira. O colunista praticamente desceu ao nível baixíssimo dos executores das transmissões "religiosas" que exploram a ingenuidade das vítimas e arrecadam fortunas em pseudoigrejas comandadas por pastores estelionatários. Nunca imaginei ver Ming COMPACTUANDO com estes pseudorreligiosos salafrários! Completa decepção!
ResponderExcluirEsta tal Teologia da prosperidade está mais pra título da coluna do macaco Simão na Folha do que pra um colunista sério de Economia. Lamentável!
ResponderExcluirOs crentes de antigamente eram bem diferentes.
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