Valor Econômico
O horário eleitoral gratuito ainda é um fator importante para a definição de voto em São Paulo. A pesquisa Datafolha de intenção de voto para prefeito divulgada nesta quinta-feira (5) resolve a dúvida que havia sobre a relevância dessa propaganda, mencionada na última coluna "Pergunte aos Dados" publicada no Valor. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição e proprietário de 65% do tempo de propaganda na TV, foi o que mais cresceu na pesquisa, passando de 19% para 22%. Pablo Marçal (PRTB), senhor absoluto das redes sociais e sem um segundo sequer no horário eleitoral, cresceu também, mas apenas um ponto percentual, indo de 21% para 22%. A variação é pequena para ambos, mas quando se olha a curva dos últimos levantamentos se nota uma mudança de tendência. É um panorama completamente diferente ao que havia até a semana passada, quando o influencer havia subido sete pontos na rodada anterior e Nunes caído.
O que limitou Marçal
nessa rodada e favoreceu Nunes é que o candidato do PRTB não evoluiu bem fora
da esfera do bolsonarismo e Nunes manteve o que tinha nesse segmento. Marçal tem 48%
da intenção de voto de quem optou pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022 e
Nunes somente 31%. Mas entre os lulistas o prefeito conta com 19% e Marçal com
apenas 2%. O emedebista está aliado ao PL, exibe o vice Ricardo Mello Araújo, coronel
da Rota, e tem como estrela do seu programa de TV o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Ainda assim uma parte do seu eleitorado, não pouco importante, está fora da
órbita bolsonarista. Marçal é direita pura.
Na faixa do eleitorado acima de 60 anos de
idade, Nunes fica com 30% e Marçal com 17%. No eleitorado com renda domiciliar
de até dois salários mínimos o influencer tem 17% e Nunes 28%. No segmento com
educação até o nível fundamental, de 31% a 12%. A renda mais baixa, o nível
educacional menor e a faixa etária mais alta são segmentos em que redes sociais
são menos usadas.
Onde Marçal é mais forte do que Nunes? Entre
homens (29% a 23%), faixa etária de 25 a 34 anos (27% a 12%), renda domiciliar
acima de cinco salários mínimos (25% a 17%), ensino superior (22% a 16%),
evangélicos (29% a 27%) e autodeclarados brancos (25% a 21%). São exatamente
esses os segmentos em que a adesão bolsonarista é mais alta. Bolsonaro sempre
foi mais rejeitado entre as mulheres, e isso não muda com Marçal. Marçal tem
somente 16% das preferências femininas, ante 22% de Nunes.
Sem tempo na televisão, Marçal precisa crescer onde já está forte. Ou seja, reforçar a identificação do bolsonarismo duro com sua candidatura. É o que ele vem fazendo, e tudo indica que irá redobrar a aposta. O candidato do PRTB fala em vencer no primeiro turno. Por ora nada autoriza esse otimismo: ele só conta com maioria absoluta de intenção de voto entre os eleitores de Bolsonaro em 2022, que representaram 34% do eleitorado total e 46% dos votos válidos.
A argumentação de
Tarcísio a favor de um voto útil do conservadorismo em Ricardo Nunes como
estratégia para evitar a vitória de Guilherme Boulos tem respaldo na
pesquisa. Segundo
o Datafolha, o candidato do Psol segue com rejeição alta e estável, de 37%. Mas
a rejeição a Marçal cresceu quatro pontos percentuais, pulando de 34% para 38%,
ao passo que a de Nunes caiu de 25% para 21%. No segundo turno Nunes bate
Boulos com vantagem de doze pontos percentuais, ao passo que o candidato da
esquerda ganha de Marçal por seis pontos. O apelo ao voto útil nesse estágio da
campanha, contudo, faltando ainda um mês para disputa soa prematuro.
Normalmente essa é uma tática reservada para a reta final, até porque não está
estabelecido, pelos números disponíveis no momento, que Boulos teria vaga
garantida em um segundo turno.
O candidato do Psol
passa por um problema sério nessa campanha, que é a baixa identificação sua com
o lulismo, em que pese a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) em sua propaganda na televisão. Entre os eleitores que votaram em Lula
na disputa presidencial de 2022 somente 43% dizem votar em Boulos. É algo de
díficil compreensão, dado que somente Boulos nessa campanha busca se
identificar com o eleitorado do presidente. Para sair da estagnação Boulos
precisa de duas coisas: colar em Lula e reforçar o bombardeio em Nunes, para
retirar do emedebista a fatia que ele tem dentro do lulismo.
É nesse ponto que a estratégia de Boulos é um
complicador para Nunes: o candidato do Psol no primeiro turno nada tem a tirar
de Marçal e tem o que remover do emedebista. Como Nunes e Marçal estão
empatados, se Boulos tiver sucesso nessa estratégia a balança da outra vaga
para o segundo turno pende para o candidato do PRTB.
A pesquisa mostra ainda um rápido esvaziamento de José Luiz Datena (PSDB) e um paulatino crescimento de Tabata Amaral (PSB). A candidata do PSB, pela primeira vez em quarto lugar, se fortalece como uma espécie de Nêmesis de Marçal, a quem enfrenta sobretudo em debates e redes sociais. Tabata vai melhor na faixa de renda mais alta e na população com ensino superior. Não mostra vitalidade nos segmentos menos suscetíveis às redes sociais e seu pouco tempo na televisão não a ajuda.
Quem deveria aparecer no horário eleitoral são as pessoas quem indicaram-me...
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